Candidata à presidência do PSDB fala em debandada na legenda

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Pré-candidata a presidente nacional do PSDB na eleição que acontecerá em maio do próximo ano, a deputada Yeda Crusius (PSDB-RS) disse que um eventual apoio oficial do PSDB ao governo de Jair Bolsonaro (PSL) levaria a uma debandada do partido. A declaração foi feita por ela no mesmo dia em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, em entrevista à revista “Veja”, que deixará o partido se o PSDB virar “sublegenda do governo”.

— Não acredito que isso pode acontecer. Se virar sublegenda do governo, metade do PSDB sai. Por isso, não vamos virar uma sublegenda — afirmou Yeda.

A candidatura da deputada a presidente nacional do PSDB foi apresentada nesta semana em Brasília. A eleição para eleger a nova direção do partido está marcada para maio.

Yeda disse ter convicção de que FH não sairá o PSDB porque, segundo ela, não existe possibilidade hoje de adesão ao governo de Bolsonaro.

— Essa não é uma discussão existente. Aliás, o governo Bolsonaro nem aventa que o PSDB entre para seu governo. Mas, de repente, tem gente pensando nisso e achando que fosse importante ser um apenso. Foi para determinadas opiniões que ele fez essa declaração. Ele (FH) tem toda a razão — disse a deputada.

Na entrevista, Fernando Henrique orienta sobre o que considera o caminho da reconstrução do PSDB. Para ele, o partido não pode “cometer o erro de ser uma sublegenda do governo” nem de ser “oposição sistemática estilo PT”.

— Acho que o PSDB ganha quando ele não é ideológico, quando ele tem pragmatismo com valores, não o pragmatismo do oportunismo clientelístico. Será que o PSDB vai ser capaz de se reorganizar de uma forma mais equilibrada? Se ele não for, estou fora — declarou.

— O PSDB é um partido necessário. Quem elegeu 29 deputados federais não é um nanico. É verdadeiro o que ele diz que nascemos para ser o contrário de um apenso ao poder central — comentou Yeda.

Líder do PSDB na Câmara, o deputado Nilson Leitão (PSDB-MT) considerou “lúcida” a mensagem do presidente de honra do PSDB.

— Foi uma declaração muito lúcida. Ele não está de todo errado quando diz que o PSDB não pode ser arrastado para qualquer lado. O PSDB tem que identidade própria, tem história e capacidade para isso, para que possa apresentar uma agenda de centro ao país — afirmou.

FH defende na entrevista a construção de um “centro radical” que reuniria representar forças de centro derrotadas na eleição. Leitão disse que o recado que o ex-presidente faz ao partido é uma convocação ao equilíbrio.

— O centro radical é a forma de chamar todos nós para o equilíbrio e não ceder ao radicalismo — disse Leitão.

O maior entusiasta de uma aproximação com o governo Bolsonaro no PSDB é o governador eleito de São Paulo João Doria. A reportagem procurou o tucano mas ele não quis comentar a declaração de FH. Aliados dele entenderam as declarações do ex-presidente como um recado ao futuro governador.

Na próxima terça-feira, o futuro ministro da Casa Civil, Onix Lorenzoni, terá uma reunião com a bancada de deputados do PSDB. Nesta semana, os atuais e novos deputados tucanos se reuniram em Brasília para troca de experiências. Eles elegeram o novo líder da bancada, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), e sinalizaram apoio majoritário a uma posição de independência do PSDB ao governo Bolsonaro no Congresso.

Assim como Yeda, Leitão também não acredita em um engajamento do PSDB ao novo governo. Segundo ele, o partido saiu traumatizado do apoio dado ao governo Michel Temer.

— Como houve aquele apoio ao governo Temer, o que foi muito combatido no partido, agora cabe um pouco mais de precaução.

Ele também não acredita numa saída de FH do partido.

— Ele vai ajudar a fazer essa reprogramação do partido, até porque ele ajudou a construir — afirmou.

A independência pregada pela maioria da bancada na Câmara significa, na prática, apoiar projetos de Bolsonaro que são defendidos pelo PSDB, como a reformas da Previdência, sem que haja um apoio automático ao governo.

— Não vejo que a fala do Fernando Henrique seja um veto a um apoio Bolsonaro. Podemos apoiar aquilo que for proposto e que esteja de acordo com nossas bandeiras. O que ele quis dizer é que o PSDB precisa levantar as bandeiras que é dele de fato e defender com unhas e dentes aquilo que acredita que pode ser colocado em prática pelo governo — disse Leitão.

Do O Globo