Observatório do Clima teme pela Amazônia no governo Bolsonaro
A alta de 13,7% na taxa de desmatamento da Amazônia Legal, segundo estimativa preliminar do Inpe divulgada nesta sexta-feira (23), não é surpresa, afirma em nota o Observatório do Clima — rede de organizações voltada à agenda de combate às mudanças climáticas. Segundo a entidade, quem acompanha os dados mensais divulgados pelo governo federal e Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) “sabia que uma elevação estava a caminho”, fato com o qual “é bom já ir se acostumando.”
Os ministérios do Meio Ambiente (MMA) e de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) informaram o indicador do Prodes 2018, referente ao período de agosto de 2017 a julho de 2018. A área total de desmatamento foi de 7.900 quilômetros quadrados.
Para o Observatório do Clima, o aumento — que acontece “apesar dos esforços do Ministério do Meio Ambiente de intensificar o combate aos crimes ambientais na Amazônia” — provavelmente resulta de uma série de circunstâncias climáticas e cambiais, citando o dólar alto, que eleva preços de produtos agrícolas e estimula a devastação. “Mas é inegável o peso do fator político no resultado colhido pelo governo Temer [presidente Michel Temer] em sua despedida”, afirma a ONG, em nota.
A organização civil também critica a relação do Executivo com lideranças ruralistas no Congresso. “Ao longo do último ano, o Palácio do Planalto e governos estaduais fizeram uma série de acenos à bancada ruralista, como a anistia à grilagem de terras, assinada pelo presidente da República em julho de 2017 (pouco antes de começar a contagem dos dados de 2018)”, destaca o comunicado. No ano eleitoral, acrescenta a entidade, “alguns Estados passaram a cooperar menos com o Ibama na fiscalização, inclusive perdoando garimpeiros após um ataque a uma base do Ibama no Amazonas.”
Para o Observatório do Clima, com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para o Planalto, a bancada ruralista chegou ao poder. “O presidente eleito prometeu durante a campanha desmontar os controles ambientais no Brasil e é isso o que está acontecendo neste exato momento: a equipe de transição, com ruralistas na liderança, esfacela as atribuições do Ministério do Meio Ambiente mesmo sem formalmente extingui-lo.” O desmatamento pode triplicar na Amazônia, retornando aos níveis do início do século, caso o novo governo cumpra “suas ameaças”, aponta a organização. “Mesmo que o pior não aconteça, a tendência para os próximos anos é de mais devastação, mais violência no campo, mais poluição e menos eficiência na produção de commodities na Amazônia. É bom já ir se acostumando”, diz a nota.