Racismo cresce no mercado de trabalho, diz estudo
A dificuldade de inserir os negros no mercado de trabalho tem nome: indiferença à questão, diz a diretora-adjunta do Instituto Ethos, Ana Lúcia de Melo Custódio.
O problema, afirma, passa por aquilo que o recrutador pensa ser o candidato ideal para a vaga em determinada empresa —e, de acordo com esse imaginário, esse futuro funcionário não é negro.
Os negros são 64,2% dos desempregados no Brasil, embora representem 55,7% do total da população, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A participação de pretos e pardos entre os desocupados cresce desde o início da série, iniciada em 2012.
Haveria falta de talentos para ocupar vagas? “É exatamente o contrário”, diz Custódio. “Quando a gente ignora uma parte da população que não entra ou não ascende nas empresas, estamos desperdiçando talentos”, diz.
Segundo ela, há vieses inconscientes que coexistem com o difícil enfrentamento do racismo —uma questão brasileira, em sua avaliação.
No último levantamento do Ethos, em 2016, quando questionados se a participação dos negros nos diferentes níveis da empresa era adequada, os gestores respondiam que sim. “Tem-se a percepção de que as coisas vão bem, mas os dados dizem outra coisa”.
Um projeto do Ethos foi lançando em maio de 2017 com 20 empresas que buscam incrementar o número de negros em sua força de trabalho. Hoje, o grupo reúne 36 companhias, do porte de Itaú, Coca-Cola, Avon, Carrefour, Bayer e McDonald’s.
Dados da Rais, a Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho, apontam que, em 2017, a contratação de pretos e pardos com nível superior cresceu num ritmo mais rápido do que entre os brancos.
A alta foi de 8,6% (pretos) e 2,9% (pardos). Entre os brancos, na mesma faixa de escolaridade, a alta foi de 0,1%.
Basta olhar para o lado nos escritórios, porém, para reconhecer que as diferenças ainda persistem.
Na região metropolitana de São Paulo, a taxa desemprego entre os negros é maior do que a verificada entre os brancos (20,8% em comparação a 15,9% em 2017). Além disso, os negros receberam, em média, 69,3% do rendimento dos não negros no período.
A maior participação de negros no ensino superior, fenômeno decorrente das políticas de cotas, ainda não se reflete nas contratações.
Segundo pesquisa do próprio Ethos, os negros ocupavam 6,3% dos cargos de gerência, 4,9% dos cargos em conselhos de administração e apenas 4,7% do quadro executivo em 2016.
Questionada se vê riscos de retrocesso com um futuro governo que já se posicionou contras as cotas, Custódio diz que pode existir regressão em políticas públicas, mas acha menos provável que isso ocorra nas empresas.
Da FSP