Segundo filho de Bolsonaro, Brasil seguirá Trump e mudará embaixada em Israel para Jerusalém
O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito Jair Bolsonaro, confirmou nesta terça-feira em Washington, que a embaixada brasileira em Israel se mudará de Tel Aviv para Jerusalém. O tema é polêmico e foi alvo de diversas idas e vindas de Jair Bolsonaro nos últimos tempos. A decisão contraria resoluções da ONU segundo as quais o status da cidade sagrada para as três religiões monoteístas deve ser decidido em negociações com os palestinos.
— A questão não e perguntar se vai, a questão e perguntar quando será — afirmou Eduardo Bolsonaro.
O deputado se encontrou pela manhã com Jared Kushner, conselheiro-sênior da Casa Branca e genro de Donald Trump, tratando do tema durante a reunião. Os Estados Unidos mudaram sua embaixada para Jerusalém em maio deste ano, numa decisão seguida pela Guatemala dias depois, e que despertou críticas internacionais.
Eduardo Bolsonaro — que no fim de um evento sobre economia recebeu de dois brasileiros um boné do presidente Donald Trump de presente e o colocou — minimizou eventuais problemas econômicos com a transferência da embaixada israelense, que pode gerar boicote dos países árabes a produtos brasileiros, principalmente do agronegócio. Mas ele disse que, se isso ocorrer, as empresas precisarão se adaptar. O Brasil exportou US$ 13,4 bilhões para países árabes em 2017, com um superávit de US$ 2,98 bilhões.
— Olha, todo mundo conhece Jair Bolsonaro, ele falou bastante isso na campanha. Se isso pode interferir alguma coisa no comércio, a gente tem que ter alguma maneira de tentar suprir caso venha a ocorrer esse tipo de retaliação. E eu acredito que a política no Oriente Médio já mudou bastante também. A maioria ali é sunita. E eles veem com grande perigo o Irã. Quem sabe apoiando políticas para frear o Irã que quer dominar aquela região a gente não consiga um apoio desses países árabes.
Ao mencionar o Irã, o deputado mais uma vez alinha a política externa anunciada por seu pai com os Estados Unidos, que buscam isolar o Irã no Oriente Médio através de políticas com países aliados na região. Em maio passado, Washington deixou o acordo nuclear com Teerã, apesar das críticas dos outros participantes — França, Alemanha, Reino Unido, Rússia e China — e retomou as sanções econômicas ao país.
O deputado, que está representando o futuro governo de seu pai em uma série de reuniões com autoridades americanas, também afirmou que não houve problemas com o Egito, que cancelou em novembro uma visita oficial que o chanceler Aloysio Nunes faria ao país após Bolsonaro indicar a possível mudança da embaixada brasileira em Israel em Jerusalém. O setor oriental (árabe) da cidade, ocupado pelos israelenses na Guerra dos Seis, em 1967, é reivindicado pelos palestinos como capital de um futuro Estado independente.
A informação oficial era que a viagem precisaria ser adiada por problemas de agenda das autoridades egípcias. Aloysio Nunes teria encontros com o chanceler Sameh Shoukry e com o general Abdel Fattah al-Sisi, que ocupa a Presidência do país desde 2014, e um grupo de empresários brasileiros já estava no país para um fórum de investimentos, que foi adiado.
— Quem não foi para o Egito foi só o chanceler Aloysio Nunes. Todo o corpo empresarial que estava previsto para ir para o Egito foi, inclusive a pedido das autoridades egípcias. Então, eu não vejo crise nenhuma — disse ele. — Tanto que não cancelaram o evento, apenas adiaram a ida do chanceler (brasileiro) para o próximo ano, o que é até natural, já que o Aloysio Nunes está de saída. Então, o embaixador Ernesto Araújo, que será o próximo chanceler, provavelmente irá ao Egito e com certeza fará bons negócios lá, até porque neste meio de transição eu já recebi duas vezes a visita dos embaixadores dos Emirados Árabes Unidos.
Eduardo Bolsonaro ainda afirmou que discutiu a situação humanitária da Venezuela com Jared Kushner e que ambos os governos reconhecem a necessidade de uma integração maior entre os dois países. Ele afirmou que a região precisa atuar em conjunto para ajudar os venezuelanos:
— A questão da fome, da falta de medicina, de um governo que por vezes não aceita receber ajuda humanitária, e é isso que a gente tem que mudar. Tem que pensar no próximo como se fosse conosco. Quem sabe amanhã, o Brasil, em algumas décadas, estará em uma situação ruim e nossos vizinhos virando as costas para nós? — questionou.
Na véspera, o deputado afirmou que o futuro governo buscará ações junto com os Estados Unidos para congelar ativos venezuelanos e cubanos no Brasil. Bolsonaro citou, inclusive, a Convenção de Palermo contra crimes transnacionais. Perguntado sobre o congelamento, o Itamaraty destacou que a atuação do Brasil direciona-se “primordialmente à implementação das resoluções das Nações Unidas sobre o assunto, as quais têm ênfase no combate ao terrorismo”.
“O principal parâmetro para o congelamento de ativos de autoridades ou grupos é a aprovação no Comitê de Sanções do Conselho de Segurança. O Itamaraty acompanha o assunto e participa das deliberações quando é membro não permanente. Atualmente, não existe regime de sanções da ONU direcionado a qualquer país na América Latina. No que tange casos específicos, o congelamento de ativos é possível no Brasil mediante decisão judicial”, informou.
Do O Globo