Acordo de Paris já é uma crise no governo

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O Brasil vai abandonar ou não o Acordo de Paris (2015), tratado multilateral que busca evitar os piores impactos da mudança climática? Ninguém sabe ao certo.

O recém-apontado ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Novo), se diz inclinado a postular a permanência do país. “A minha tendência […] é dizer que nós não devemos deixar o acordo”, declarou.

A afirmação parece conflitar com a defesa da saída do Brasil pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL). Sequioso de se alinhar aos EUA, Bolsonaro imitou o presidente Donald Trump ao insurgir-se contra o acordo do clima, como já fizera ao prometer mudar a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém.

Salles atenuou sua opinião destoante: “Isso também não significa que nós devemos aceitar toda e qualquer sanção, restrição e programa de maneira indiscutível. Todos os países têm que respeitar a autonomia brasileira para gerir seu território e decidir suas políticas do meio ambiente”.

Ao mencionar a questão da soberania, o ministro indicado toca em ponto sensível para alguns militares —Bolsonaro incluído— preocupados com a suposta cobiça internacional sobre a Amazônia. Não foi por outra razão que o presidente eleito pediu ao Itamaraty que desistisse de sediar a próxima conferência global do clima.

“Está em jogo o Triplo A”, alegou o novo presidente. “Esse acordo, que é uma grande faixa, que pega Andes, Amazônia, Atlântico, de 136 milhões de hectares, ao longo da calha dos rios Solimões e Amazonas, poderá fazer com que percamos nossa soberania nessa área.”

Ambos, Salles e Bolsonaro, se equivocam e demonstram constrangedora ignorância sobre Paris. Nada há de impositivo em seu texto para o Brasil ou qualquer outro país. As metas de redução de emissões de carbono ali incluídas são voluntárias (“contribuições nacionalmente determinadas”).

Já se sabe que não serão cumpridas pelos principais poluidores e, mesmo que o fossem, não bastariam para alcançar o objetivo de conter o aquecimento da atmosfera em 2°C. No entanto não existem sanções previstas contra eles.

O caso do Triplo A mais se assemelha a um delírio. A proposta de criar um mosaico amazônico de unidades de conservação, dos Andes ao Atlântico, não passa disso —uma proposta. Foi apresentada por um obscura ONG colombiana e não se encontra em pauta na conferência ora em curso na Polônia.

Faltam 17 dias para Bolsonaro assumir a Presidência. Resta pouco tempo para que se informe melhor sobre os assuntos de Estado.

Da FSP