Aécio seria líder de organização que obteve recursos ilícitos com J&F em 2014
A Polícia Federal afirma que o senador Aécio Neves(PSDB-MG) liderou uma organização criminosa com o objetivo de comprar apoio político de outros partidos para sua candidatura presidencial em 2014. Para isso, captou doações legais e repasses ilícitos do grupo empresarial J&F , dono da JBS, no valor total de R$ 110 milhões, destinadas a ele mesmo e a legendas como DEM, Solidariedade e PTB, diz a PF. O tucano, sua irmã Andréa Neves e o deputado federal Paulinho da Força (SD-SP) foram alvos de mandados de busca e apreensão da Operação Ross, na manhã desta terça-feira .
Com base nesses fatos, os investigadores pediram ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma série de mandados de busca e apreensão e outras medidas contra Aécio e demais parlamentares envolvidos. A PF classifica os fatos investigados de “gravíssimos” e cita a “captação de recursos para campanha presidencial, no valor de quase R$ 110.000.000,00 (cento e dez milhões de reais) a partir das práticas de atos de corrupção passiva para a ‘compra’ de apoios políticos de partidos”.
“O grupo criminoso liderado pelo senador Aécio Neves teria agido de forma a ‘comprar’ o apoio de diversos partidos e candidatos para a campanha presidencial do PSDB nas eleições de 2014, como o PTB, com a interlocução dos deputados federais Cristiane Brasil e Benito Gama, além do tesoureiro do partido Teixeira Magalhães Filho, o Solidariedade, com o envolvimento do deputado federal Paulo Pereira da Silva (Paulinho da Força), além do DEM, em que houve a interlocução com o Senador Agripino Maia, e outros já referidos”, afirmou a PF.
Na representação enviada ao STF, assinada pelo delegado Bernardo Guidali Amaral, são detalhados os valores repassados a cada um. Sobre Aécio, a PF afirma que ele “solicitou e recebeu direta e indiretamente o valor indevido de pelo menos R$ 128.049.063,00 do grupo J&F, sendo R$ 109.344.238,00 no contexto das eleições de 2014”. Segundo a PF, o tucano usou parte desse valor total para viabilizar a compra de outras legendas sob a seguinte divisão: R$ 20 milhões para o PTB, R$ 15 milhões para o Solidariedade e R$ 2 milhões para o DEM, além de R$ 9 milhões para “diversos candidatos e partidos menores”.
“Como contrapartida pelos pagamentos, prometeu a Joesley Batista influência no futuro governo federal, que seria viabilizada pelo grupo político ‘comprado’, além de ter atuado para a restituição de créditos de ICMS junto ao governo de Minas Gerais”, diz a PF.
O nome da operação remete à plataforma de gelo situada na Antártida Ross, que é a maior do mundo, com extensão equivalente ao território da França. Os investigadores que batizaram a operação fazem alusão desta plataforma à plataforma eleitoral de Aécio Neves na disputa pela Presidência em 2014, supostamente abastecida com recursos ilícitos da J&F.
Além dos repasses às legendas, os pagamentos a Aécio também foram feitos por meio de empresas que tinham relações com ele, dentre elas entregas em espécie realizadas por supermercados de Belo Horizonte
“Os elementos existentes nas investigações indicam a manutenção de uma estrutura estável e organizada mantida para viabilizar a captação de recursos para as eleições presidenciais do PSDB em 2014, mediante a ‘compra’ de apoio político de outros partidos e candidatos. O recebimento dos recursos indevidos pelos membros da associação criminosa foi embasado na prática de crime de corrupção e viabilizados por intermédio da lavagem dos recursos financeiros, seja pela realização de doações eleitorais oficiais, por meio da simulação da prestação de serviços e emissão de notas fiscais fraudulentas, pela utilização de doleiros para a realização de entregas em espécie e depósitos em contas correntes de pessoas físicas, ou ainda pelo emprego de supermercados para a realização de entregas em espécie”, escreveu a PF.
Do O Globo