Após escândalo, Coaf é vítima de fake news por defensores de Bolsonaro

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Desde que identificou movimentações suspeitas na conta de um ex-motorista do senador eleito Flávio Bolsonaro, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) virou alvo de boatos que levantam suspeitas infundadas sobre motivações políticas nos trabalhos de fiscalização do órgão. Uma das mensagens mais enviadas era a informação falsa de que seriam demitidos 180 funcionários “petistas” com supersalários do órgão.

O Coaf foi criado em 1998 e, neste período, produziu 39 mil Relatórios de Inteligência Financeira (RIF). Mais de mil documentos deste tipo foram enviados à Operação Lava Jato, no Paraná. Neste ano, até novembro, o órgão fez mais de 6,7 mil documentos que citaram cerca de 349 mil pessoas. O trabalho do Conselho é receber, examinar e identificar suspeitas de atividades bancárias ilícitas.

Na quinta-feira da semana passada,  o Coaf identificou e informou ao Ministério Público Federal (MPF) movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Fabrício José Carlos de Queiroz, ex-assessor do filho mais velho do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Uma das transações era um cheque de R$ 24 mil à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Veja, abaixo, a checagem dos principais boatos  sobre o Coaf.

“O Bolsonaro passou o Coaf para o Moro, vão ser demitidos 180 petistas com salários de 16 a 28 mil”

De fato, o Coaf vai deixar de pertencer ao Ministério da Fazenda e passar a fazer parte da “superpasta” da Justiça comandada pelo ex-juiz Sérgio Moro. No entanto, isso não significa que todos os funcionários do conselho perderão seus cargos. O futuro ministro não sinalizou nenhum tipo de corte no órgão, mas sim a ampliação e reforço da estrutura do Coaf.

O número de pessoas que trabalha no órgão é um pouco mais de um quinto do citado no boato. São apenas 37 funcionários, sendo 27 servidores públicos concursados, que não podem ser demitidos.

Os salários também não condizem com os que estão circulando no WhatsApp. Dos 37 servidores, apenas 18 recebem acima de R$ 16 mil. Segundo o Ministério da Fazenda, outros 19 têm salários abaixo desse valor, o que inclui todos os dez funcionários que não são concursados.

Todos esses dados estão disponíveis publicamente no Portal da Transparência. A Fazenda ressaltou, em nota, que o Coaf também tem 11 conselheiros, que não recebem remuneração de qualquer natureza.

“13 anos de PT roubando o Brasil e nunca ouvimos falar no Coaf”

“Coaf não viu nada nos bilhões que voavam de lá pra cá pra Suíça nos governos (?) do PT…”

O Coaf foi fundamental para as investigações históricas do Mensalão e da Lava Jato, como informa esta reportagem do Estado. Os Relatórios de Inteligência Financeira (RIF) produzidos pelo órgão resultaram na única delação do Mensalão, a do corretor Lúcio Bolonha Funaro.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também foi alvo de devassa do Conselho, que apontou movimentação de R$ 52 milhões entre 2011 e 2015 na empresa de palestra do petista, a L.I.L.S. A investigação do Coaf foi utilizada nos processos das Operações Zelotes e Lava Jato.

Outro personagem dos relatórios do Coaf é o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci. O órgão mapeou movimentação de R$ 216 milhões entre 2008 e 2015 na empresa Projeto, pertencente ao petista. O Conselho também levantou suspeita sobre depósitos de R$ 53 milhões feitos por Palocci à empresa Projeto Consultoria, que também está em seu nome.

“COAF e GLOBO não conseguem explicar os 51 milhões encontrados na casa do Geddel”

O ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB) já foi citado em um relatório do Coaf, produzido em 2017. O documento analisava movimentações suspeitas do grupo J&F entre 2003 e 2017, no valor de R$ 248 bilhões. Os pais do ex-ministro, Marluce Quadros Vieira Lima e Afrísio de Souza Vieira Lima, movimentaram R$ 34 milhões 2011 e 2015. Geddel foi preso após a Polícia Federal encontrar R$ 51 milhões escondidos em malas em um apartamento ligado a ele em Salvador.

“Uma vendedora de AVON deixou uma herança de 11 milhões, onde estava o COAF?”

A “vendedora de Avon” a que se refere a corrente que circula no WhatsApp é a ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, que morreu em 3 de fevereiro de 2017. O valor citado, no entanto, faz parte do patrimônio do casal Lula da Silva, e não apenas de Marisa.

Atualmente, o valor do inventário é de R$ 12,3 milhões. A lista de bens contém imóveis, carros e aplicações financeiras do casal. Os bens mais valiosos são duas aplicações financeiras em previdência privada, que alcançam R$ 9 milhões.

Do Estadão