Com escândalos e fake news, Trump e Bolsonaro enfraquecem a democracia
Donald Trump e alguns de seus defensores, incluindo no Brasil, dizem que as investigações sobre sua campanha até agora não produziram nenhum resultado. Falso. Já foram indiciadas ou até mesmo condenadas à prisão várias figuras ligadas ao presidente, incluindo seu advogado pessoal, Michael Cohen, sentenciado ontem a três anos de prisão por crimes que implicam também o atual líder americano.
Detalhe que, no caso de Cohen, a condenação se deveu a crimes apurados em Nova York, e não por Robert Mueller, investigador independente sobre o suposto conluio entre a campanha de Trump com a Rússia, embora o advogado também seja alvo de suas investigações. Os crimes cometidos por Cohen incluem mentir ao Congresso, evasão fiscal e, mais importante, doação ilegal de campanha.
Esta doação, na verdade, foi o pagamento de dezenas de milhares de dólares para uma modelo da Playboy e a uma atriz de entretenimento adulto para que elas se calassem, durante a campanha presidencial de 2016, sobre os relacionamentos amorosos mantidos com Trump anos antes, quando Melania amamentava o filho Barron. O objetivo, segundo a Justiça, era impedir que os casos fossem publicados na imprensa, o que poderia prejudicar a campanha do então candidato republicano. Por este motivo, se configuram em doação ilegal, pois visavam a evitar perdas eleitorais. O presidente, por sua vez, está implicado diretamente porque, segundo a mesma Justiça dos EUA, foi ele quem ordenou que Cohen efetuasse o pagamento.
Desde que Cohen se virou contra Trump, o presidente passou a chamá-lo de fraco, burro e mentiroso. Pode até ser verdade. Mas, se for, como o presidente justifica ter mantido por tantos anos Cohen como seu advogado pessoal? Só teria descoberto agora que seu ex-advogado seria tão incompetente ou a motivação se deve ao fato de o ex-colaborador tê-lo incriminado?
Além de Cohen, já foi condenado Paul Manafort, por mentir a autoridades, evasão fiscal e lavagem de dinheiro. Sua sentença ainda não foi definida, mas tende a ficar ao menos uma década atrás das grades. Ele foi o chefe de campanha de Trump por alguns meses durante as eleições em 2016. George Papadopoulos, assessor de campanha, foi condenado a 14 dias de prisão por mentir sobre seus contatos com a Rússia. Rick Gates, outro assessor de campanha de Trump, confessou ter cometido crimes de fraude financeira e mentir a autoridades. Michael Flynn, que foi assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, confessou ter mentido ao FBI sobre suas conversas com o embaixador da Rússia. Dezenas de russos já foram acusados formalmente de conspiração.
Para deixar claro, todas estas condenações ou indiciamentos ocorreram antes da conclusão do relatório de Robert Mueller. Não sabemos o que pode vir pela frente e os riscos para Trump e seus filhos e genro são enormes.
Independentemente de qualquer coisa, não dá para aguentar mais ler que as investigações da Justiça americana não levaram a lugar algum depois de o chefe de campanha e o advogado pessoal do presidente estarem presos. Isso antes da conclusão final do processo. Mentir ou atacar as instituições judiciais americanas, como fazem alguns trumpistas, apenas enfraquece a democracia.
Do O Globo