Divergências e sumiço de provas marcam investigação do caso Marielle
Enquanto a Delegacia de Homicídios (DH) corre contra o tempo para dar uma solução ao caso até o dia 31, a investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco, morta com o motorista Anderson Gomes, teve um racha. O Ministério Público estadual, que deve trabalhar junto à polícia, rompeu com a DH por discordar dos rumos do inquérito. Entre outras questões, paira a suspeita de que tenham sumido imagens importantes de câmeras de segurança que poderiam ajudar na elucidação do crime.
O possível desaparecimento de provas consolida divergências que não são novas. Nos últimos meses, a 23ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal (PIP), com o apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), conseguiu, numa apuração paralela, dados novos. As duas promotoras responsáveis pelo caso, no entanto, mantêm sigilo sobre as descobertas.
O secretário de Segurança, general Richard Nunes, tem pressionado por resultados. O delegado Giniton Lages, titular da DH, adotou a “estratégia” de prender pessoas com mandados de expedidos por outros crimes, mas que podem ter relação com o caso Marielle. Nesta terça-feira, Renato Nascimento Santos, o Renatinho Problema, foi capturado com mandados de prisão de outros dois homicídios. Ele é considerado braço direito de Orlando de Curicica, que está no Presídio Federal de Mossoró e foi apontado por uma testemunha como um dos mandantes do crime. Renatinho deverá ser ouvido no inquérito de Marielle, no qual é citado pela mesma testemunha que incriminou Curicica.
A Divisão de Homicídios da Capital também enfrenta denúncias feitas pelo próprio Curicica. Por conta delas, a investigação está sendo “investigada” pelo Ministério Público Federal. A medida foi tomada após Curicica ter acusado o diretor da DH, o delegado Giniton Lages, de coagi-lo a assumir os homicídios, quando ainda estava em Bangu 9, em maio deste ano, antes de ser transferido para o presídio federal.
Um relato do miliciano a procuradores da República do Rio Grande do Norte acabou na mesa da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que pediu apoio da Polícia Federal ao ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. Curicica atribuiu a morte da vereadora ao Escritório do Crime, um grupo de policiais e ex-policiais que mata por encomenda, inclusive para a contravenção. Giniton Lages disse que divergências no trabalho são naturais e que todas as provas estão nos autos.
Do O Globo