Artistas de rua são hostilizados por PM e bolsominions na Avenida Paulista (SP)
Na sexta-feira [25/1, feriado do aniversário da cidade de São Paulo], fomos forçados a sair do ponto que ocupamos há quatro anos, eu e dois amigos músicos que estávamos tocando na Paulista, em frente ao Consulado-Geral da Itália. Chegamos às 9h para garantir o lugar e havia duas vans, lá. Além de umas vinte motos da polícia do exército. Tudo certo, conversamos com os motoristas e eles disseram que sairiam em breve.
E de fato não demoraram. Saíram vários homens de uniforme da Marinha e Exército, patentes graúdas, pelas insígnias. Entraram nas vans. Depois uns oito carros oficiais – não dava para ver quem estava neles – e mais uns três com placas do consulado.
Mal montamos e tocamos a primeira entrada veio um sujeitinho ridículo com três capangas exigir que retirássemos a coisa dali. Nos recusamos porque ele não deu nenhum motivo plausível para saíssemos dali. Ele falou que estávamos em frente ao estacionamento, respondemos que a Paulista estava fechada [desde 2015, a Paulista permanece fechada aos domingos e feriados para carros e artistas podem se apresentar na via]. Foi no meio dessa conversa que ele falou que o presidente é o Bolsonaro e agora eram outros tempos.
Aí a coisa azedou, bicho.
Falei que não ia ter arrego pra fascista de merda. Descendente de operário anarquista que sou, disse um belíssimo va fanculo e uma dúzia de fascistinhas de merda e não saímos.
Ele falou que ia chamar a polícia, e chamou. Vieram dois PMs e tentaram argumentar. Inclusive com o carinha, e até disseram a ele que era nosso direito ocupar aquele espaço. Continuamos tocando e dali a pouco apareceram SEIS viaturas e uns dez PMs. Nos recusamos a sair. Chamei todos de apoiadores de fascistas, porque era nosso direito tocar ali.
O cara que estava no comando veio falar comigo e falou que carros oficiais têm permissão para usar a Paulista e que estávamos no caminho. Não estávamos. Eu falei a ele o que o fascistinha do consulado falou sobre o Bolsonaro e ele, para minha surpresa, disse o seguinte:
– As coisas mudaram mesmo e vocês têm que entender que agora é assim, não tem mais vagabundagem.
– Você votou no Bolsonaro e está feliz em poder reprimir os artistas na Paulista, não é?
E o cara me responde:
– Não posso dizer que não estou.
Enfim. Para não perdermos o trabalho de ter levado uma tonelada de equipamento até a Paulista, nos movemos. Tocamos e o show foi bom, mas com gosto de repressão.
(*) Fabio Pagotto é jornalista e baixista das bandas The Esquina e Saco de Rato
Da Ponte