Candidata que recusou ser laranja do PSL gravou conversa com assessor de ministro
Candidata a deputada estadual pelo PSL em Minas Gerais nas últimas eleições, a professora aposentada Cleuzenir Barbosa gravou pelo menos três telefonemas em que procurou assessores do ministro do Turismo, o deputado federal Marcelo Álvaro, para denunciar um esquema de extorsão e lavagem de dinheiro na campanha.
Um deles – em que ela cita “equipe do PSL ameaçando a campanha do Marcelo Álvaro” – ocorreu em plena campanha eleitoral, quando o atual ministro presidia o partido em Minas.
Obtidas pelo BuzzFeed News, as conversas gravadas pela própria Cleuzenir contradizem a versão que vem sendo sustentada pelo ministro Marcelo Álvaro desde a eclosão do escândalo dos laranjas do PSL.
Desde que o caso veio à tona, o ministro tem sido reticente e vem afirmando que só ficou sabendo das denúncias de Cleuzenir em novembro. Só que dois meses antes, ainda na campanha, o homem de confiança de Marcelo Álvaro foi procurado por ela.
Numa das ligações gravadas, ocorrida por volta de 20 de setembro, em plena campanha eleitoral, ela falou com o chefe de gabinete do deputado e coordenador da campanha, Aguinaldo Diniz, sobre os “fatos graves” que poderiam prejudicar a campanha dele de reeleição para a Câmara dos Deputados.
Naquele momento, ela era candidata a deputada estadual e fazia dobradinha com Marcelo Álvaro, pedindo votos para ele para deputado federal.
No dia 18 de setembro, a campanha de Cleuzenir havia recebido R$ 60 mil do PSL e, segundo o depoimento dela ao Ministério Público e à polícia, dois assessores do atual ministro durante a campanha, Haissander de Paula e Roberto Soares, passaram a pressioná-la para entregar R$ 30 mil para a gráfica de propriedade do irmão de Soares – a gráfica é um dos focos de suspeita de desvio de recursos do fundo partidário pelo PSL mineiro.
Na semana passada, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Cleuzenir afirmou: “Era o seguinte: nós mulheres iríamos lavar o dinheiro para eles. Esse era o esquema. O dinheiro viria para mim e retornaria para eles.”
O repasse de R$ 60 mil para ela foi autorizado pelo então presidente interino da legenda em nível nacional, Gustavo Bebianno, demitido da Secretaria-Geral da Presidência na semana passada.
Na conversa gravada pela própria candidata com Aguinaldo em setembro, Cleuzenir disse ao assessor de Marcelo Álvaro que precisava falar com com o então deputado “para ontem” devido a uma situação urgente que poderia desembocar em casos “mais graves” – não há menção direta a Haissander e Soares, mas a uma “equipe do PSL ameaçando a campanha do Marcelo Álvaro.”
Segundo ela, atos de uma “equipe do PSL” atuando na região de Governador Valadares (MG) poderiam levar “negatividade” para a campanha do hoje ministro e ela não queria que fatos ocorressem sem falar com o político.
Aguinaldo pediu para que Cleuzenir enviasse o seu número por WhatsApp e prometeu informar o seu chefe, que iria retornar para a candidata.
Cleuzenir insiste: “Tem uma equipe do PSL que está ameaçando a campanha do Marcelo Álvaro em Governador Valadares e região. E eu não vou deixar sem participar isso ao deputado.”
O assessor de Marcelo Álvaro volta a prometer: “Tá, eu vou falar com ele. Assim que eu encontrar com ele, eu vou passar o seu recado.”
Segundo Cleuzenir, nunca houve retorno. Além da conversa que teve com Aguinaldo e que gravou em setembro, Cleuzenir também registrou pelo menos dois outros telefonemas.
Num deles, no dia 29 de novembro, Cleuzenir ligou para o PSL de dentro da delegacia de Polícia Civil, onde ia ser ouvida por uma delegada que apurava um possível crime de extorsão no caso do desvio de dinheiro para a gráfica.
A já ex-candidata disse a uma atendente de nome Michele que precisava falar uma pessoa chamada Gustavo, Aguinaldo Diniz ou com o próprio deputado Marcelo Álvaro, que já fazia parte do governo de transição e se preparava para assumir o Ministério do Turismo.
“Eu agora vou ser ouvida por uma delegada, aqui na delegacia civil, do caso Haissander e Robertinho. E eu temo que isso vai respingar no sr. Marcelo, ministro”, disse.
Após ouvir que algum deles iria retornar a ligação em breve, Cleuzenir disse que estava sem nenhum respaldo jurídico do PSL e insistiu em falar com Marcelo Álvaro.
“Quero falar com Marcelo Álvaro porque isso pode respingar nele, porque a delegada aqui de extorsão ela não gostou nada do que o Robertinho e o Haissander fizeram comigo”.