Esquema de Paulo Preto tem ‘diversas camadas de lavagem’
A força-tarefa da Lava Jato afirma que o esquema de lavagem de dinheiro usado pela Odebrecht e que envolvia o operador do PSDB Paulo Vieira de Souza tinha ‘diversas camadas’. Ele foi preso preventivamente pela Operação Ad Infinitum, fase 60 da Lava Jato, nesta terça-feira, 19. O ex-senador e ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores/Governo Temer), presidente da Investe São Paulo (Agência Paulista de Promoção de Investimento e Competitividade) do governo João Doria, foi alvo de buscas.
Nesta terça-feira, 19, após ser alvo da Operação, Aloysio Nunes pediu demissão da Investe São Paulo.
A Lava Jato afirma que Vieira de Souza disponibilizou, a partir do segundo semestre de 2010, R$ 100 milhões em espécie ao operador financeiro Adir Assad no Brasil. Os valores, segundo o delator Adir Assad, ficavam estocados em uma casa e em um apartamento em São Paulo. O delator contou que recolhia o dinheiro vivo em malas que acondicionavam cerca de R$ 1,5 milhão e eram colocadas em uma van.
De acordo com a investigação, Adir Assad entregou os valores ao Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, aos cuidados do doleiro Álvaro José Novis. O operador Adir Assad teria cobrado uma taxa de serviço de 5% sobre cada valor remetido no exterior pela empreiteira em seu favor. Álvaro José Novis era, segundo a Lava Jato, o responsável por fazer pagamentos de propinas, a mando da empresa, para vários agentes públicos e políticos, inclusive da Petrobrás.
Em contrapartida, relata a investigação, a Odebercht repassou valores, por meio de contas em nome de offshores ligadas ao Setor de Operações Estruturadas da empreiteira, ao operador Rodrigo Tacla Duran. “Esse, por sua vez, repassou o dinheiro, ainda no exterior, mediante a retenção de comissões, diretamente a Paulo Vieira de Souza, ou, por vezes, a doleiros chineses, que se encarregavam de remeter os valores, também por meio de instituições bancárias estrangeiras, ao representado (Paulo Vieira de Souza)”, narrou a Lava Jato.
“O intrincado e complexo esquema criminoso de lavagem utilizado pela Odebrecht para, por intermédio dos operadores financeiros Adir Assad Rodrigo Tacla Duran, Álvaro José Novis e Paulo Vieira de Souza, obter dinheiro em espécie no intuito de pagar propinas no Brasil, envolveu diversas “camadas” de lavagem de dinheiro, e atendeu aos interesses de todos os envolvidos.”
Segundo a Lava Jato, Adir Assad e Paulo Vieira de Souza ‘mantiveram negócios espúrios, consistentes no branqueamento de capitais e geração de valores em espécie para diversas das maiores empreiteiras do país, a exemplo de Camargo Corrêa, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Serveng, CT, Carioca Engenharia, CCR, dentre outras’. Os investigadores relaram que o operador do PSDB ‘indicou diversas pessoas, diretores e presidentes dessas empresas, que Adir Assad poderia contatar para a consecução de seus interesses espúrios’.
“Conforme foi reconhecido por Adir Assad no âmbito de seu acordo de colaboração, uma parte do dinheiro em espécie por ele gerado em favor dessas grandes empreiteiras nacionais investigadas no âmbito da Operação Lava Jato foi por ele diretamente repassada a Paulo Vieira de Souza, no período em que este era diretor da Dersa e responsável pela coleta de propinas decorrentes das obras do Rodoanel de São Paulo”, narra a Lava Jato.
“Uma parte de todo esse dinheiro ilícito em espécie recebido por Paulo Vieira de Souza, por intermédio de Adir Assad e outros operadores, foi acumulada ao longo dos anos 2008, 2009 e 2010, vindo a totalizar mais de R$ 100 milhões. Foi esse o dinheiro que foi repassado por Paulo Vieira de Souza a Adir Assad no Brasil, para posterior entrega à Odebrecht, mediante depósitos realizados por operadores financeiros dessa em contas por Paulo Vieira de Souza no exterior.”
A Operação Ad Infinitum foi deflagrada por ordem da juíza Gabriela Hardt, da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba.
Vieira de Souza já é réu de duas ações penais da Lava Jato em São Paulo. Em um processo que trata de desvios de R$ 7,7 milhões em obras de reassentamento do Rodoanel, Aloysio Nunes foi arrolado como testemunha de defesa de Tatiana, filha de Paulo, também ré na ação.
Ligado a governos do PSDB no Estado, Vieira de Souza foi diretor da Desenvolvimento Rodoviário S.A (Dersa), estatal paulista. Suas relações com tucanos é muito antiga. Ele desfruta da fama de que detém informações privilegiadas.
Certa vez, na campanha presidencial em 2010, Vieira de Souza protagonizou episódio emblemático. Aparentemente ‘ignorado’ pelo então candidato do PSDB José Serra, que em debate na TV Bandeirantes com sua oponente Dilma Rousseff (PT) disse ‘não se lembrar’ do ex-diretor da Dersa, ele declarou à jornalista Andrea Michael. “Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro.” O recado de Vieira de Souza soou como um aviso ao ninho tucano sobre o alcance e o peso que suas informações podem ter.
A reportagem está tentando contato com os citados. O espaço está aberto para manifestação.
O ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira, presidente da Investe São Paulo, disse que ainda ‘não teve acesso às informações’ da Operação Ad Infinitum, a fase 60 da Lava Jato. Segundo ele, o delegado da Polícia Federal que conduziu as buscas em sua residência nesta terça, 19, ‘foi muito cortês’, mas não revelou a ele os motivos da diligência. “O inquérito está em segredo, eu estou buscando saber o que há.”
Aloysio negou ter recebido cartão de crédito da conta do operador do PSDB Paulo Vieira de Souza, preso na Ad Infinitum.
A reportagem fez contato com a assessoria de Paulo Vieira de Souza. O espaço está aberto para manifestação.
“A Odebrecht tem colaborado de forma eficaz com as autoridades em busca do pleno esclarecimento dos fatos narrados pela empresa e seus ex-executivos. A Odebrecht já usa as mais recomendadas normas de conformidade em seus processos internos e segue comprometida com uma atuação ética, íntegra e transparente.”
“A Construtora Camargo Corrêa foi a primeira empresa de seu setor a firmar um acordo de leniência e, desde então, vem colaborando continuamente com as autoridades.”
“O PSDB de São Paulo esclarece que não é parte no processo em questão e não mantém qualquer tipo de vinculo com o sr. Paulo Vieira, jamais recebeu qualquer contrapartida de empresas nem autorizou terceiros a fazê-lo em seu nome. Os recursos recebidos pelo partido, em período eleitoral ou não, foram doados de maneira absolutamente legal e declarados à Justiça Eleitoral, respeitando a legislação vigente.”
“A Executiva Nacional do PSDB não foi informada sobre os detalhes do caso, mas reitera seu apoio e confiança na justiça brasileira, em vista dos esclarecimentos prestados pelo ex-senador Aloysio Nunes”.
Do Estadão