Ex-candidata que denunciou laranjal do PSL aparece em vídeo com Bolsonaro
Um vídeo confirma a versão da aposentada Cleuzenir Barbosa de que esteve em Brasília com Jair Bolsonaro e com o então deputado e hoje ministro, Marcelo Álvaro Antonio (Turismo), para assinar registro no PSL e receber apoio do atual presidente.
Em entrevista à Folha e a órgãos de investigação, Cleuzenir disse ter sido coagida por assessores de Álvaro Antonio a devolver recursos do fundo público de campanha num esquema, chamado por ela de “dobrada”, em que mulheres, segundo a aposentada, foram usadas para lavar dinheiro para o caixa da chapa do ministro, eleito o deputado mais votado por Minas Gerais.
Na gravação, Cleuzenir aparece numa sala na Câmara dos Deputados com Álvaro Antonio assinando uma ficha do PSL e recebendo uma declaração de apoio de Bolsonaro no salão verde da Casa.
“Olá amigos de Minas Gerais, estou tendo prazer de receber a Cleuzenir, de Governador Valadares, uma das nossas pré-candidatas a deputada estadual por esse estado maravilhoso, tá ok? Um abraço a todos, Tamo juntos”, diz Bolsonaro.
Bolsonaro tem reunião marcada para a tarde desta quarta-feira (20) com o ministro do Turismo. O presidente tem sido pressionado a demiti-lo, ainda na esteira da crise dos laranjas que já derrubou Gustavo Bebianno, ex-presidente do PSL, do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência.
Uma série de reportagem da Folha tem mostrando o uso de dinheiro público do PSL em candidaturas de laranjas, com mulheres que tiveram votação inexpressiva e quase nenhum sinal efetivo de que tenham realizado campanha. Cleuzenir afirma não ter aceitado participar do esquema do partido.
No caso de Minas, a verba foi liberada formalmente pelo então presidente nacional da sigla, Gustavo Bebianno, demitido do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência nesta segunda-feira (18) em decorrência da crise política após as revelações da Folha.
Hoje ministro do Turismo, Álvaro Antônio era o comandante da legenda em Minas, responsável pela montagem das chapas. Parte do dinheiro público foi direcionado a quatro candidatas do PSL mineiro apenas para preencher a cota feminina de 30% das candidaturas e de verba eleitoral.
O dinheiro enviado a elas foi parar na conta de empresas de assessores, parentes ou sócios de ex-assessores do atual ministro do Turismo. O ministro nega irregularidades.
Cleuzenir, que diz não ter aceitado integrar o esquema, não foi eleita (teve 2.097 votos) e hoje vive em Portugal. Disse ter deixado o Brasil exclusivamente por medo de retaliações por parte dos aliados do hoje ministro.
Ela afirma ter havido um esquema de lavagem de dinheiro público pela sigla no estado. Segundo ela, o agora ministro do governo de Jair Bolsonaro sabia da operação.
“Era o seguinte: nós mulheres iríamos lavar o dinheiro para eles. Esse era o esquema. O dinheiro viria para mim e retornaria para eles”, afirmou em entrevista à Folha.
Cleuzenir também fez as acusações na polícia e no Ministério Público, que investigam o caso. Ela afirma ter sofrido pressão de dois assessores de Álvaro Antônio —Roberto Soares e Haissander de Paula— para devolver R$ 50 mil dos R$ 60 mil que recebeu do fundo eleitoral do PSL.
Ela diz ter relatado o caso a pelo menos quatro assessores de Álvaro Antônio, na época deputado federal e candidato à reeleição, e ter tentado falar diretamente com ele, mas que nada foi feito.
Da FSP