Grupo do PSL: deputada reage à fala de Bivar sobre política não ser “muito da mulher”
As declarações do presidente nacional do PSL, Luciano Bivar (PE), de que a maioria das mulheres não têm vocação para a política causaram controvérsia dentro do seu próprio partido, que tem duas senadoras e dez deputadas federais.
No grupo de WhatsApp que reúne os congressistas da legenda, a deputada Major Fabiana (RJ) postou mensagens questionando a posição de Bivar, que “não critica a cota, critica a capacidade intelectual, disposição ou posicionamento” das mulheres na política.
“Afirmo que as mulheres desse seleto grupo estão tão preparadas ou mais preparadas do que muitos homens para desempenhar SIM [usa letras maiúsculas] qualquer cargo ou função política. Não visto essa carapuça”, escreveu a parlamentar.
“Fui eleita para exercer papel de destaque no governo do meu presidente Bolsonaro, e assim o será! Admiro as mulheres que conheci nesse meio, desde a ministra Damares até a mais tímida parlamentar. Todas me inspiram. Pra que uma declaração dessas? O que isso acrescenta?”, prossegue a deputada, que, em seguida afirma ter certeza de que a reportagem não reflete preconceito por parte de Bivar.
“Negar o machismo é negar o sol, mas como sou resultado de um concurso de vagas iguais para homens e mulheres da PM, em 1997, e pertenço a turma de combatentes em que mais se formaram mulheres, sei que não será justamente aqui que sentirei pela primeira vez essa prática que ignoro.”
Contactada, ela enviou à Folha mensagem afirmando confiar na postura de Bivar e ter “certeza de que foi uma declaração distorcida por parte da imprensa, que o mesmo não quis desqualificar as mulheres”.
“O mesmo [Bivar] sabe do potencial das mulheres na política e inclusive tem varias em sua assessoria, considerando a capacidade técnica de cada uma”, disse, acrescentando que no PSL as mulheres são muito respeitadas e consideradas por sua postura.
Neste domingo a Folha publicou reportagem mostrando que o PSL nacional destinou a terceira maior fatia de verba pública de campanha para uma candidata inexpressiva de Pernambuco ligada ao grupo político de Bivar.
Ao falar sobre o caso, o presidente do PSL criticou as regras que definem uma cota mínima de candidatas e de verbas para as mulheres sob o argumento de que elas não têm, em sua maioria, vocação para a política.
“[A política] não é muito da mulher. Eu não sou psicólogo, não. Mas eu sei isso”, disse.
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) disse à Folha também se contra as cotas.
“A mulher não entra para a política porque ela não quer, a grande maioria não quer, eu vi muita mulher entrar na política só pra cumprir cota, em vários partidos, não é toa que em 2016 a gente teve 600 mulheres que foram candidatas a vereadoras e não tiveram nem sequer seu próprio voto”, afirmou.
Ela deu seu exemplo: “O fato de eu ter um filho. Sou mãe solteira, dependo dos meus pais para me ajudarem a cuidar. Se não tivessem meus pais eu provavelmente não estaria na política.
Não teria como levar ele toda terça quarta e quinta para Brasília, ele estudar um tempo em Brasília, outro tempo em São Paulo, a vida fica muito confusa”, disse a deputada, afirmando ter presenciado muitos lugares em que as mulheres não querem ser candidatas.
“Por uma falta de vontade da mulher em ser candidata, homens não podem ser candidatos porque é obrigatório ter uma mulher para cada dois homens. É quase uma ditadura isso, acaba sendo uma discriminação com as mulheres e uma injustiça com os homens.”
A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) disse ser favorável à cota para mulheres na política, mas voltou a defender que não haja financiamento público aos candidatos, sejam homens ou mulheres.
“Com isso, apenas quem quer trabalhar em prol do todo ficará na política. É necessário fugir dos políticos profissionais. Partidos não podem ser um meio de vida. Também cabe às mulheres serem menos resignadas. Há mulheres de políticos que se candidatam apena para cumprir cota. Ao fazerem isso prejudicam todas as mulheres.”
Parlamentares da oposição criticaram Bivar: “Política não é coisa de quem acha que política não é coisa de mulher”, escreveu o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) em suas redes sociais.
Da FSP