Papa Francisco, filho de imigrantes, fala sobre imigração em Abu Dhabi
O papa Francisco terminou nesta terça-feira (5) sua visita histórica aos Emirados Árabes Unidos, a primeira de um pontífice à Península Arábica, com uma missa em um estádio em um país que autoriza a prática do Cristianismo sob a condição de ser discreto.
Mais de 2 mil ônibus transportaram gratuitamente os fiéis de todo o país até Abu Dhabi. Um organizador disse por alto-falante que 170 mil pessoas, fluxo inédito nos Emirados Árabes Unidos, assistiam à missa dentro e fora do maior estádio do país, o Zayed Sports City.
A missa reuniu fiéis de cem nacionalidades, segundo a Igreja local. Os Emirados são um país onde 85% da população é composta por expatriados, dos quais 65% são cidadãos de países asiáticos que trabalham em todos os setores, desde a construção até os serviços.
“Com certeza não é fácil, para vocês, viver longe de casa e talvez sentir, além da falta das afeições mais queridas, a incerteza do futuro”, disse o papa durante a sua homilia, feita em italiano e traduzida por alto-falante ao árabe. Francisco celebrou a missa excepcionalmente em inglês, com uma grande cruz atrás dele.
“Formais um coro que engloba uma variedade de nações, línguas e ritos”, destacou, falando da “jubilosa polifonia da fé” que a Igreja constrói.
Francisco, fiel a sua vontade de mostrar a proximidade da Igreja com as periferias do mundo, foi cumprimentar quase exclusivamente os trabalhadores imigrantes, muitos deles filipinos e indianos.
O papa argentino, filho de imigrantes italianos em uma Argentina multicultural, é muito sensível às dificuldades das pessoas desenraizadas.
Há cerca de um milhão de católicos neste país, com uma sociedade bastante aberta ao mundo exterior e um islã mais moderado que o da Arábia Saudita. A maioria de católicos é composta por trabalhadores asiáticos, que praticam a sua religião em oito igrejas.
“Estou tão contente de estar aqui”, disse Severine Mounis, de 49 anos, indiana residente em Dubai há dez anos. “É um presente, já que não podemos viajar à Cidade do Vaticano”, explicou.
Stanley Paul, um paquistanês de 45 anos que mora nos Emirados há 14, pôde ir com sua esposa e filhas. “Queremos que nossas duas filhas, de nove e 14 anos, compreendam o papa, vejam sua simplicidade”.
Nesta terça, o vigário apostólico para a Arábia do sul, Paul Hinder, agradeceu às autoridades do país por permitirem a celebração da missa em um local público.
Antes de sua homilia, o papa fez uma visita à Catedral São José.
Os Emirados promovem uma imagem de abertura e tolerância, embora no país seja praticada a “tolerância zero” contra toda dissidência, particularmente a dos adeptos do islã político, representado pela Irmandade Muçulmana.
O reino vizinho da Arábia Saudita, ultraconservador, proíbe qualquer prática religiosa que não seja o Islã.
Na segunda-feira, em um longo discurso diante de líderes de todas as religiões, Francisco estimulou que os Emirados “continuem em seu caminho” garantindo a liberdade de culto.
Ao mesmo tempo, o papa jesuíta insistiu sobre a necessidade de “liberdade religiosa”, que deve ir além da simples liberdade de culto. Pediu a todo o Oriente Médio “o mesmo direito à cidadania” para as pessoas das diferentes religiões.
Francisco e o grande imã do instituto egípcio de Al-Azhar (principal autoridade do Islã sunita), Ahmed al-Tayeb, condenaram toda discriminação contra as minorias religiosas, em um documento que assinaram na segunda-feira à noite.
O papa, vestido de branco, e o xeque Ahmed al-Tayeb, de preto, apareceram juntos de maneira fraterna, em frente à grande Mezquita Zayed – uma das maiores do mundo -, e depois se cumprimentaram com um beijo no palco da conferência inter-religiosa, repleta de folhas de oliveira.
Da FSP