“Pelo desastre até aqui, como educadora não espero nada desse governo”

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Leia o texto de Renata Garcia, educadora da rede municipal de São Paulo.

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Só quem passa longe de qualquer escola pode falar em desastre da educação nos governos petistas.

Temos 500 anos de história, o Ensino Fundamental só foi universalizado na década de 1990. A Educação Infantil só foi tornada obrigatória em 2016. Desde os anos 1990 (e estou incluindo aí a gestão FHC, porque esta NÃO é uma discussão político partidária) há um esforço continuo dos governos em investir na educação.

Mas recuperar décadas de descaso custa dinheiro e muito, muito tempo.

Iniciei no magistério no início dos anos 1990. As escolas não tinham recurso, não tinham nada. Hoje há programas de transferência de dinheiro direto para a escola, criados ou incrementados nas gestões do PT. E com cada repasse podemos comprar equipamentos e materiais, bem como realizar obras na escola.

A escola onde leciono este ano, em São Paulo, conseguiu colocar projetores multimídia em todas as salas de aula.

Acho que é importante também olhar os índices de matrícula e do IDEB. Na educação especial, minha área, até 2003, 80% das crianças com deficiência estavam nas escolas especiais.

Hoje 90% das que tem matrícula estão nas classes comuns. Minha escola tem Sala de Recursos Multifuncionais – SRM, equipada pela prefeitura em parceria com o governo federal, que enviou computadores, notebook, armários e equipamentos de tecnologia assistiva, programa esse criado pelo ex-ministro Fernando Haddad. A SRM tem dois professores para o AEE das crianças com deficiência.

Os índices de alfabetização têm melhorado nas últimas duas décadas. Mas estão longe de serem os ideais e ainda temos problemas muito sérios no final do Ensino Fundamental: índices de evasão e repetência altíssimos e muitos alunos chegando ao final do Ensino Fundamental sem saber o mínimo.

E por que, mesmo com aumento de investimentos maciços nos ultimos 15 anos, ainda melhoramos tão pouco? Porque países que têm bons índices investem mais e há mais tempo, pelo menos 30 anos mais cedo que nós. Precisávamos manter os ritmos de investimento por umas 4 décadas (mas com o congelamento dos investimentos em educação por 20 anos ficará dificil).

Mas tem também um fator principal: a escola não é uma ilha.

Tenho um menino na minha turma com sérias questões emocionais. Família numerosa, pais com histórico de violência. Ele pega absolutamente qualquer coisa que encontrar. Vaga pela escola procurando oportunidades e pega. Caixa de lápis, blusa, grampeador, pulseirinhas coloridas, celular… e quando é questionado não responde, não fala. Ninguém da escola sabe a voz dele.

Mas ele fala, sabemos que fala. Conselho tutelar? Vara da Infância? Estamos aguardando. O problema dele passa longe de ser cantar ou não o Hino Nacional.

O NOSSO problema passa longe disso!

A outra questão é a baixa qualidade da formação inicial dos docentes. E a pouca atratividade da carreira: não conseguimos atrair os melhores. Já está difícil conseguir pessoas interessadas no magistério. Quem quer ser professor?

Há muitos palpiteiros, se achando no direito de dizer que a Educação isso ou aquilo, mas quem quer passar 25 anos da sua vida dentro de uma escola como eu já passei, com o maior orgulho?

E a reforma da previdência só vai agravar a situação, pois desconsidera estudos sobre o adoecimento docente. Poucos aguentarão trabalhar em sala de aula até os 65 anos.

Todos estes fatores em 500 anos levam ao quadro que temos hoje. Podemos sair dele, sem dúvida, e gostaria de ver as propostas REAIS deste governo para a educação.

Porém, pelo primeiro desastre que foi essa ação (e que não tem nada a ver com o Hino, já que as crianças aprendem i hino na escola mesmo), desrespeito à legislação, desconhecimento do funcionamento da relação entre entes federativos, pela mensagem pobre, mal escrita, pelas declarações do amador que colocaram no ministério, não tenho esperanças de coisas boas vindo de lá.