‘Bolsonara’ argentina quer ampliar bancada cristã e quer combate à ideologia de gênero

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O sonho de Cynthia Hotton é ser a “Bolsonara argentina”, mas ela acha que a Argentina ainda não está pronta para uma revolução bolsonarista. Por isso, Hotton vai começar lançando uma frente de candidatos em defesa da família e dos valores cristãos para as eleições deste ano no país, que se realizam em outubro.

“No Brasil, diferentemente da Argentina, há anos existe uma forte frente parlamentar de deputados e senadores conservadores e cristãos”, disse à Folha Hotton, que foi deputada de 2007 a 2011 pelo partido Valores para o meu País, e agora se candidata novamente ao cargo.

“Então estamos construindo uma base forte cristã para, em poucos anos, termos o nosso Bolsonaro —quem sabe Bolsonara?”

A economista e diplomata de carreira tem como objetivo eleger cerca de 15 deputados de vários partidos com agenda anti-aborto e anti-ideologia de gênero no pleito argentino deste ano.

Da mesma forma que o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, Hotton se aconselha com Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump que hoje se dedica a promover o movimento populista de direita pelo mundo.

Hotton servia até pouco tempo atrás como representante da Argentina na missão do país junto à OEA.
As prioridades de sua plataforma são a defesa da família e a libertação das escolas da imposição da ideologia de gênero, como ela diz.

“Queremos que nossos filhos tenham uma educação livre, hoje em dia a educação está nas mãos de setores LGBT; muitos pais não querem que seus filhos sejam educados seguindo a ideologia de gênero.”

Ela diz que não se opõe ao casamento gay, legalizado na Argentina em 2010. Mas afirma que irá continuar lutando para evitar a legalização do aborto no país.

No ano passado, a legalização do aborto foi derrotada por margem pequena no Senado. Mas o projeto que descriminaliza o aborto até as primeiras 14 semanas de gravidez, apenas pela vontade da mãe —e que tinha apoio do presidente Mauricio Macri— deve ser apresentado novamente ao Congresso neste ano.

Hoje, a legislação argentina permite o recurso apenas em casos de má-formação do feto, de estupro e de risco de morte da mãe.

Trata-se de um tema que mobiliza muito o eleitorado argentino —em 2018, houve inúmeros protestos a favor da legalização, que ficaram conhecidos como lenços verdes, e contra, os lenços celestes.

“Muitos setores evangélicos daqui estão revoltados com as atitudes do governo”, diz Hotton, que conhece vários membros da bancada evangélica brasileira, como o deputado Sóstenes Cavalcanti, e também a atual ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Ela também já se reuniu com o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo.

“Discutimos o crescimento da participação de políticos cristãos na América Latina e Estados Unidos”, disse. “E a eleição de presidentes como o americano Donald Trump e o brasileiro Jair Bolsonaro, que honram seus compromissos com o eleitorado cristão.”

Segundo ela, há cada vez mais governantes que seguem uma agenda de valores.

“A Argentina ainda não está pronta para esse salto, mas a eleição de Bolsonaro no Brasil despertou um setor do eleitorado que estava adormecido, e agora há um clamor por uma agenda de valores cristãos.”
Entre 10% e 15 % dos argentinos são evangélicos, enquanto os católicos superam 65%.

No Brasil, segundo o IBGE, católicos são cerca de 64,5% e os evangélicos já são 22,2%.

“Nossa agenda pró-vida e pró-familia atrai não só os evangélicos, mas também os católicos mais praticantes.”

No campo econômico, Hotton é liberal: quer corte de impostos e redução do tamanho do Estado.

Da FSP