Lixo em SP daria para cobrir toda a avenida Paulista a uma altura de 53 metros

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Numa sala no segundo andar da sede da Amlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana), no Canindé, região central de São Paulo, o economista Edson Tomaz de Lima Filho, 67, comanda um exército de 14 mil homens e mulheres, com 600 caminhões e orçamento anual de R$ 143 milhões, incluindo o serviço de varrição.

A cada dia, a cidade produz 20 mil toneladas de lixo. São 12.000 de resíduos domiciliares e 8.000 da varrição. Daria para cobrir toda a extensão da avenida Paulista a uma altura de 53 metros. Além disso, há mais de 104 mil lixeiras espalhadas pela cidade, mas muita gente ainda prefere jogar o lixo nas ruas e nos rios.

“A sensação que eu tenho é de estar numa casa de dez cômodos, cada um com seis pessoas, uma senhorinha só cuidando da limpeza e os outros sujando”, desabafa o “xerife do lixo”, responsável pelo funcionamento de toda a máquina, que opera 24 horas por dia, de domingo a domingo.

Com os atuais aterros sanitários já no limite e sem espaço para abrir novos, Lima só vê uma solução para o problema: estimular os 12 milhões de paulistanos a separar o lixo domiciliar e aumentar a capacidade da coleta seletiva.

A coleta de recicláveis corresponde atualmente a apenas 7% do total. Quase metade dos resíduos coletados diariamente poderia ser reciclada.

Para conscientizar a população de que cada um precisa fazer a sua parte, a Amlurb lançou em fevereiro o Movimento Recicla Sampa, uma plataforma online que tem como objetivo reduzir, em quatro anos, 500 mil toneladas de resíduos atualmente despejados nos aterros municipais.

“É impossível, numa cidade como São Paulo, só o poder público zelar pela limpeza, sem a colaboração de todos, a começar pela separação do lixo comum e reciclável nas residências”.

Lima sabe do que está falando. Ele está no serviço público há 34 anos. Começou como administrador regional de São Mateus, quando era prefeito Mario Covas. Depois, trabalhou com ele em diferentes cargos no governo do Estado.

“Sou um cara de partido”, gosta de dizer o tucano histórico, de cabelos brancos e fala mansa. Pós-graduado em administração pública pela FGV, já passou por mais de dez cargos públicos e foi membro da Fundação Mario Covas. “Comecei com o avô e agora estou trabalhando com o neto.”

Quando João Doria assumiu a prefeitura, em 2017, o então vice Bruno Covas chamou o amigo da família para assumir a Amlurb. “Fiquei preocupadíssimo, era muita responsabilidade. Na primeira vez, recusei, mas ele insistiu muito, e acabei aceitando. Achava que nessa altura da vida era um cargo muito pesado”.
Bruno, na época, era também secretário das prefeituras regionais, à qual a Amlurb é subordinada. Foi criticado na imprensa porque sua família era sócia da de Lima numa pousada em Ubatuba.

“Nossas famílias são amigas há 40 anos, os filhos foram criados juntos. Qual é o problema?”. No momento, a pousada encontra-se arrendada.

O nome do presidente da Amlurb também seria envolvido numa denúncia anônima contra o então presidente do Tribunal de Contas do Município, João Antonio da Silva Filho, em maio do ano passado, durante processo de licitações de empresas de varrição. Nada ficou provado.

“Isso foi uma guerra de empresas que disputavam o serviço, mas, no fim, serviu para acabar com a cartelização, e nós acabamos economizando recursos para a prefeitura, pagando menos.”

Após várias renegociações dos contratos, a despesa anual com a varrição, que era de R$ 90 milhões, no início da gestão, caiu para R$ 76 milhões, em junho de 2018.

Agora, são seis as empresas que cuidam do serviço, com 12 mil empregados (salário médio de R$ 1.231,95) responsáveis pela limpeza das ruas. Nos novos contratos, recém-assinados, o total deste ano ficou em R$ 67 milhões.

Duas empresas são responsáveis pela coleta de lixo domiciliar na cidade: Ecourbis e Loga, que empregam 6.000 funcionários (salário médio de R$ 1.465,28) e recebem R$ 76 milhões por ano.

Ambas contam com centrais mecanizadas de triagem capazes de processar 250 toneladas de recicláveis por dia.

A baixa adesão da população à coleta seletiva, além dos problemas ambientais causados, também prejudica a geração de emprego e renda para as 1.200 famílias que trabalham na reciclagem, 24 cooperativas habilitadas na capital.

Das 1.500 escolas municipais, 300 terão cursos sobre reciclagem de lixo já neste ano, numa parceria da Amlurb com as empresas contratadas e a Secretaria de Educação.

“Nós temos capacidade para reciclar muito mais resíduos, mas falta matéria-prima para a operação. Precisamos da ajuda de todos. É só separar o lixo úmido do seco e a gente faz o resto. A megaoperação do gerenciamento do lixo e sua destinação final dependem da mudança de hábitos das pessoas”, diz Lima.

O “xerife do lixo” não quer mais se sentir como aquela senhorinha do início deste texto, limpando a casa de dez cômodos que os outros sujam.

Da FSP