MG: na Páscoa, guarda municipal destrói tapete tradicional em homenagem a Marielle

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Os tapetes coloridos de serragem são uma tradição nas ruas de Ouro Preto, Região Central de Minas, durante a semana santa. Este ano, porém, uma ação da guarda municipal coibiu moradores que fizeram tapetes em homenagem a vereadora Marielle Franco (Psol), assassinada no Rio de Janeiro, com o motorista Anderson Gomes, no dia 14 de março.

Imagens divulgadas na internet mostram os agentes destruindo um tapete com os pés. Outros dois ornamentos em homenagem a vereadora também foram destruídos, conforme o autor de um dos tapetes, que preferiu não se identificar.

Segundo relato de testemunhas, um tapete em homenagem ao jovem Igor Mendes, assassinado em Ouro Preto por um policial militar em setembro do ano passado também foi destruído. Os tapetes são confeccionados entre o Sábado de Aleluia e a madrugada de Domingo de Páscoa.

O autor de um dos tapetes de Marielle contou ao G1 nesta terça-feira que ele e duas amigas, estavam desenhando, quando um comandante da guarda municipal passou e disse que teria que retirar porque o tapete é um patrimônio; e disse que isso era uma ordem. O grupo questionou a ordem. O guarda então disse que a determinação veio do padre e que o tapete com a temática feita não era católica.

Segundo o autor, no tapete estava escrito: “Marielle Vive”, com o rosto de uma mulher negra. Eles ainda iam completar a decoração com flores. “Ele retornou com outros guardas e destruíram pisoteando e chutando os tapetes. Afirmaram que iam retirar todos os tapetes que não tinham motivação católica”, disse.

O autor disse que queria aproveitar o momento para protestar contra o crime bárbaro contra a vereadora e questionou a atuação da guarda. “Acho que a guarda agiu, primeiro, de forma ilegal. Eu acho que é uma motivação muito pessoal do comandante. Acho que foi abuso de autoridade da parte dele. Comunica muito com a questão da Marielle que se posicionou contra a violência policial e arbitrariedade”, disse.

Segundo a Prefeitura de Ouro Preto, a guarda foi orientada a não permitir a confecção de tapetes com motivos políticos e outros que não fossem relacionados à semana santa para não destruir a tradição dos tapetes religiosos. A administração municipal afirmou que foi um pedido da paróquia da cidade. A Prefeitura disse ainda que o guarda desfez o tapete da forma que era possível no momento e que a ferramenta que ele tinha era os próprios pés.

De acordo com nota assinada pelas paróquias Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora do Pilar, os tapetes remontam à Festa do Triunfo Eucarístico de 1733 e são chamados tapetes devocionais. Eles se direcionam, única e exclusivamente, para o Santíssimo Sacramento que é levado, solenemente em Procissão. A igreja disse ainda que agiu junto com a Prefeitura e a guarda municipal. “Deliberamos para que se mantivesse esta tradição em respeito à finalidade primeira dos tapetes”.

As paróquias reforçaram que respeitam “a consciência de cada um e o direito de manifestar, contudo, entendendo que os tapetes, por sua motivação religiosa, são inapropriados para manifestações político-partidárias, ideológicas e de homenagens a pessoas”.

“A gente ficou muito chateado com a situação”, encerrou o autor.

Do G1