Na GloboNews, Guedes defende corte no Censo

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Em sua primeira declaração sobre o tema desde que o IBGE informou, na semana passada, que o questionário do Censo 2020 será reduzido para que seu orçamento seja aprovado pela União, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem, em entrevista ao programa de TV por assinatura “Central GloboNews”, que a medida é necessária por uma “questão econômica”. Ele voltou a criticar o tamanho da pesquisa realizada no Brasil em comparação com a de países desenvolvidos, onde o questionário tem “10, 12 perguntas”.

– O Brasil é um país pobre e faz 360 perguntas. Custa muito caro e tem muita coisa do nosso ponto de vista (do governo federal) que não é tão importante – declarou o ministro, mostrando desconhecimento sobre o tamanho do Censo brasileiro, que tem em torno de 150 questões.

Em vídeo, o médico e escritor brasileiro Drauzio Varella saiu em defesa do Censo 2020, que terá seu orçamento reduzido em 25% com o corte de perguntas do questionário.

Questionada pela economista Míriam Leitão, que integra o programa da GloboNews, se sua ação seria uma forma de intervir no instituto de pesquisas, o ministro negou:

– Não é intervenção. Nós não estamos dizendo nada. A moça (Susana Guerra, atual presidente do IBGE) disse que precisava de R$ 2,7 bilhões para fazer o Censo que sempre foi feito. Eu disse: não tenho esse dinheiro. Não vou dar. Ah, mas nós vamos ficar sem Censo? (teria dito Susana). Não. Faz o que quiser para baixar esse custo. Vende prédio. Engraçado é que, se a empresa fosse privada, como o Ibope, e estivesse com dificuldades, a pesquisa encolheria e ninguém falaria em intervenção.

Há dois anos a presidência do IBGE vem alertando que teria dificuldades financeiras para realizar o Censo 2020, cujo orçamento inicial é de R$ 3,4 bilhões, para a contratação de 250 mil recenseadores temporários que visitarão, ano que vem, os quase 70 milhões de lares brasileiros. Em fevereiro, durante a cerimônia de posse da nova presidente do instituto, o ministro da Economia sugeriu pela primeira vez que o IBGE vendesse parte de seus prédios para viabilizar o Censo e também recomendou, publicamente, que a pesquisa fosse simplificada, com menos perguntas.

Pressionado pelo governo federal a cortar custos, o instituto anunciou, na semana passada, que o orçamento da pesquisa será reduzido para R$ 2,3 bilhões, pois a “diretriz do governo federal é de restrições orçamentárias”. Em nota, o IBGE informou que “a operação está sendo revista, de modo a ter um custo cerca de 25% menor que a previsão inicial. Com isso, torna-se necessário ajustar os questionários, de modo que se possa eleger que informações fundamentais devem ser pesquisadas no Censo e quais podem ser obtidas por outras pesquisas amostrais”. O instituto garantiu que não haverá perda de informações.

Na segunda-feira passada, ocorreu a primeira reunião do Conselho Consultivo do Censo depois do anúncio do corte. Ela terminou com o grupo rachado e o corpo técnico do instituto descontente com o tamanho da redução determinada pela presidente. Segundo um dos participantes do encontro, Susana impôs um corte “substancialmente” maior que o esperado ao questionário que será aplicado na pesquisa da população, sem apresentar uma planilha de custos que comprove a economia do ajuste. Isso teria desagradado parte dos conselheiros e do corpo técnico, que chegou a apresentar uma proposta de Censo mais enxuto, mas foi descartada pela presidente.

Susana teria pedido um corte maior que o apontado pelos técnicos, ainda que não tenha especificado a quantidade de perguntas a serem eliminadas e sobre quais temas. O IBGE informou que o corte do questionário ainda está em estudo. Uma proposta será elaborada pelo economista Ricardo Paes de Barros, que integra a comissão.

Especialistas em estatística, no entanto, defendem que a diminuição do número de perguntas pode trazer prejuízos ao país, pois o Censo gera uma série de informações sobre a população. A cada dez anos, recenseadores do IBGE percorrem todo o território nacional, domicílio por domicílio, para coletar dados sobre a população. Os testes de coleta do Censo 2020 começaram no mês passado, em 53 municípios do país. O Censo está programado para ir a campo em agosto do ano que vem.

Em entrevista concedida ao GLOBO no mês passado, o ex-presidente do Instituto Internacional de Estatística de 2015 a 2017, Pedro do Nascimento Silva, reforçou que a pesquisa “é um alicerce para outras e para a tomada de decisões pelo Estado e a definição de políticas públicas”, pois só o Censo dá informações detalhadas sobre os mais de cinco mil municípios brasileiros. É a base para a União distribuir recursos a estados e municípios, direcionar campanhas de saúde e definir a quantidade de vacinas necessárias em cada cidade, além de ser norteador da construção de escolas e da alocação de vagas. Ele também explicou que o Brasil não tem como ter um Censo tão enxuto como o de países desenvolvidos porque estes têm pesquisas de apoio e outros tipos de registros públicos que permitem levar à rua uma pesquisa menor.

De O Globo