“Agora a tortura é mais sofisticada, ela é baseada em delação premiada”, diz Lula em entrevista à The Intercept Brasil

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Intercept Brasil divulga, na noite desta terça-feira (21), a entrevista feita com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na carceragem da Polícia Federal em Curitiba (PR). Essa é a terceira exclusiva que o petista fornece desde que foi preso em 7 de abril de 2018.

No início da entrevista, o ex-presidente falou sobre a situação em que vive na prisão e sobre as injustiças da operação Lava Jato, responsável por sua condenação.

“Eu estou preso em uma solitária. A verdade é que é uma solitária, porque eu fico a maioria do tempo sozinho, eu recebo meus advogados e só. E a família uma vez por semana. O que me faz suportar tudo isso sem ódio e com muita esperança é que tem milhões de brasileiros que, mesmo em liberdade, vivem em pior situação do que eu. Eu almoço e janto”, disse.

“Agora a tortura é mais sofisticada. Ela é com base na delação premiada, onde a mentira é contada milhares de vezes e as pessoas ficam dois ou três anos presos, até dizerem o que o promotor ou delegado quer ouvir. Eu poderia citar como exemplo a delação do [Antonio] Palocci, onde ele mente de forma inexplicável. A senha é tentar falar do Lula. E isso já faz cinco anos”.

Mais uma vez, o ex-presidente desafiou a Justiça que mostre alguma prova contra ele e falou sobre a relação da Lava Jato com os meios de comunicação brasileiros.

“Na frente do Moro eu disse: ‘você está condenado a me condenar’. A quantidade de mentiras que vocês contaram, num acordo entre a Lava Jato e a imprensa brasileira, porque a Lava Jato não seria o que é se não fosse a imprensa, num conluio entre televisão, rádios e jornais, em que você tinha praticamente editores em cada jornal para receber a matéria em primeira mão antes dos advogados.”

Para Lula, o objetivo de sua condenação foi impedir que ele concorresse nas eleições de 2018.

“Eu sabia que estava sendo jogado um jogo, e o jogo era evitar que o Lula disputasse as eleições. Era tudo que a elite brasileira não queria, era que o Lula voltasse a ser presidente da República. Por quê? Se eles ficaram mais ricos no meu governo? A verdade é que as pessoas mais pobres subiram um degrau na escala social e na medida que os mais pobres começaram a entrar em universidade, na medida que começaram a frequentar teatros, restaurantes e aeroportos, isso começou a incomodar uma parte da elite brasileira”.

Preconceito que, para o ex-presidente, se estende a várias áreas da sociedade brasileira, como, por exemplo, o racismo.

“É importante lembrar que esse país faz pouco mais de cem anos que acabou com a escravidão na lei, mas a escravidão continua na cabeça das pessoas. É por isso que quem é vitimado pela polícia são os negros, os mais pobres. É por isso que os negros ganham metade dos brancos. É por isso que a mulher negra ganham menos que a mulher branca. Por quê? Porque você tem na consciência das pessoas, ainda, o escravismo. Não é uma questão econômica, é uma questão cultural”.

De Brasil de Fato