‘Eu exagerei’, diz Bolsonaro sobre ter chamado manifestantes da educação de ‘idiotas úteis’
O presidente Jair Bolsonaro afirmou neste domingo que exagerou ao chamar de “idiotas úteis” manifestantes que foram às ruas no último dia 15 contra cortes de verbas para a Educação. Na ocasião, Bolsonaro também afirmou que os estudantes são “massa de manobra”, manipulados por uma minoria que comanda as universidades federais. Para o presidente, o “certo” seria chamá-los de “inocentes úteis”.
— Eu exagerei, concordo, exagerei. O certo são inocentes úteis. São garotos inocentes, nem sabiam o que estavam fazendo lá. Na teoria, usa-se a inocência das pessoas para atingir o objetivo. Uma vez atingido, as primeiras vítimas são exatamente essas pessoas. Então a garotada foi na rua contra corte na educação. Não houve corte, houve contingenciamento. Eu deixei de gastar, não tirei dinheiro. Segurei aproximadamente 3,6% do montante, que seria 30% de 12% das despesas discricionárias e a molecada foi usada por professores inescrupulosos para fazer fazer manifestação política contra o governo — disse Bolsonaro, em entrevista à Record, em Brasília.
Bolsonaro voltou a afirmar que os estudantes “foram usados por professores”:
— Nós sabemos que a juventude tem um peso muito grande nessas manifestações. Agora me desculpem, mas foram usados por esses professores. A minoria não tem o compromisso de fazer com que esses jovens sejam, lá na frente, bons profissionais, bons empregados ou bons patrões — declarou.
Bolsonaro defendeu o presidente da Câmara, Rodrigo Maia — criticado por apoiadores de Bolsonaro nos atos pró-governo deste domingo. Segundo ele, tanto Maia como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, querem tocar adiante propostas como a reforma da Previdência e o pacote anticrime apresentado pelo ministro da Justiça, Sergio Moro. Porém, alegam que algumas lideranças pensam de maneira contrária. Especificamente sobre Rodrigo Maia, o presidente afirmou:
— Temos conversado, não com a frequência que nós queremos, mas vai indo bem. O Rodrigo Maia é uma pessoa diferente de mim. O que eu falo, os ministros cumprem aquele objetivo, mas ele não tem esse poder dentro da Câmara, porque cada partido tem uma direção. Ele é uma pessoa importante e acredito que esteja fazendo a sua parte dentro da Câmara. Vou conversar com o Rodrigo Maia durante a semana novamente, bem como o Davi Alcolumbre e com o Dias Tofolli (presidente do Supremo Tribunal Federal), para fazermos um pacto entre nós pelo Brasil — disse o presidente, que reconheceu que também é responsável por essa distância com os presidentes das outras instituições.
— Estamos em harmonia, mas acho que falta a gente conversar um pouco mais — e a culpa é minha também — para que coloquemos na mesa o que temos que aprovar, e também revogar, porque tem muita legislação que atrapalha o crescimento do Brasil.
Bolsonaro afirmou que as atos deste domingo vieram “do coração do povo” que, a seu ver, quer que os três poderes — Executivo, Legislativo e Judiciário — trabalhem com uma pauta definida pelo país. Ele ressaltou que não houve boletins de ocorrência, carros queimados e prédios depredados nas ruas do Brasil.
— Esse movimento é um recado para todos nós, do Parlamento e do Executivo e em parte para os magistrados do Brasil também. Algo está travando a nossa pauta.
Bolsonaro esteve neste domingo no Rio, onde participou do casamento do filho , o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), mas não participou dos atos. Ele foi à igreja Batista Atitude, na Barra, da Tijuca, frequentada pela primeira-dama Michelle Bolsonaro. Depois da visita ao templo, o presidente afirmou que o povo estava indo às ruas “defender o futuro dessa nação” . Ao todo, 156 cidades em todos os estados e no Distrito Federal registraram atos pró-governo.
Bolsonaro disse que ficou claro, nas manifestações, que o centrão às vezes atrapalha mais do que ajuda. Disse ter ouvido de parlamentares paranaenses que esse rótulo está “pegando mal”.
— A melhor maneira de mostrar que não tem nada a ver é ajudar naquilo que interessa para o Brasil — afirmou, acrescentando que não tem recebido do centrão pedidos de ministérios e cargos para aprovarem pautas de interesse do governo.
Ainda na entrevista à Record, o presidente disse que não está preocupado com o fato de o deputado Baleia Rossi (MDB-SP) ter se antecipado e apresentado um projeto de reforma tributária, já aprovado pela Comissão e Constituição e Justiça da Câmara. Bolsonaro disse que conversará sobre o assunto com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e que nada impede que o governo desista de enviar ao Legislativo uma proposta com esse mesmo fim.
— Se a proposta dele for boa, não quero ter a paternidade de nada. Se alguém quiser ser o pai da criança, nada contra. Nós queremos é fazer com que nossa economia destrave. Queremos menos burocracia, que o Estado interfira menos nas decisões que a população tem que tomar.
O presidente também revelou que pretende retirar da Constituição dispositivos que colocam sob a responsabilidade da União vários assuntos que dizem respeito aos estados. Para Bolsonaro, cada unidade da federação deve tratar de seu código penal e sua legislação ambiental, por exemplo.
— Por que nós, do Distrito Federal, temos que conhecer em profundidade a legislação ambiental de Roraima? Assim como o Pará tem que tratar da questão mineral deles, se legaliza ou não garimpo. E a questão indígena, quem cuida desse assuntos é o estado do Amazonas. Precisamos dar liberdade para que cada estado toque da melhor maneira possível as suas pautas.
Sobre reforma da Previdência, o presidente disse que os próprios governadores do Nordeste, que são da oposição, concordam que os ajustes no sistema previdenciário são importantes. No entanto, Bolsonaro reconheceu que há um desgaste em torno do tema.
— É uma reforma que aumenta o tempo de serviço, você tem que trabalhar mais para ter um salário mais próximo do que quando você estava na ativa e corta muitos privilégios. Mas se nós não enfrentarmos isso já, o Brasil pode sucumbir economicamente, como o Paulo Guedes falou há pouco, e fica insustentável nossa situação econômica.
Ele disse que conversou rapidamente com Guedes por telefone sobre a possibilidade de o ministro da Economia deixar o governo, caso a reforma da Previdência não passe. Bolsonaro afirmou que houve “fofoca” em torno do assunto e que a situação está resolvida.
De O Globo