Laranjal do PSL: Bebianno diz ser exclusiva responsabilidade de Marcelo Álvaro
Coordenador da campanha eleitoral de Jair Bolsonaro (PSL) e ministro da Secretaria-Geral da Presidência até fevereiro, Gustavo Bebianno disse à Folha ser de exclusiva responsabilidade do diretório do PSL de Minas Gerais, comandado em 2018 pelo hoje ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, o repasse de dinheiro público do partido para quatro candidatas investigadas sob suspeita de integrarem esquema de laranjas.
Bebianno, que presidiu nacionalmente o PSL no ano passado, diz que a verba foi solicitada formalmente pelo comando do partido em Minas e que apresentará às autoridades, quando solicitado, toda a documentação comprobatória.
“Em relação a Minas Gerais, não conheço qualquer das candidatas que formaram aquela chapa. Não sei quem são, e nunca sequer mantive qualquer contato com elas. Simplesmente desconheço. Esclareço que todos os pedidos de recursos efetuados para as mencionadas candidatas em questão foram feitos pelo próprio diretório de Minas Gerais”, diz Bebianno.
A prestação de contas entregue pelas quatro candidatas ao Tribunal Superior Eleitoral mostra que elas receberam os recursos —R$ 279 mil, um terço de toda a verba eleitoral do partido no estado— diretamente da Executiva nacional, comandada por Bebianno.
O ex-presidente do partido afirma, porém, que assim como fez em relação às outras 26 unidades da federação, apenas repassou o dinheiro pedido pelos comandos estaduais.
Para isso, diz, solicitou sempre formulário preenchido pelas próprias candidatas e uma planilha de cada diretório discriminando quais eram as beneficiárias. “Juntamente com essa planilha, os diretórios estaduais mandavam os nomes, essas fichas individualizadas, para a [executiva] nacional, dizendo: são essas as candidatas que receberão recursos, e cada uma receberá tanto.”
Em resposta a questionamento da Folha sobre por que direcionou recursos para essas candidatas, Álvaro Antônio confirmou ter sido o responsável e disse que houve uma escolha por investir em candidatos do Vale do Aço de Minas para se contrapor à força da esquerda na região.
Em fevereiro, a Folha revelou um esquema de candidaturas laranjas patrocinado pelo ministro do Turismo, na época candidato a deputado federal em Minas. Apesar do volume de recursos recebido, as candidatas escolhidas por ele tiveram votação inexpressiva, sem sinal de terem feito campanha.
Parte do dinheiro direcionado a elas por Álvaro Antônio foi parar em empresas ligadas ao gabinete dele na Câmara.
A Polícia Federal e o Ministério Público iniciaram investigação que, no último dia 29, promoveu operação de busca e apreensão na sede de cinco gráficas, além de outros endereços de Minas Gerais.
Conforme a Folha revelou neste fim de semana, os policiais não encontraram vestígios de que essas empresas tenham, de fato, produzido material ou outros serviços eleitorais para as quatro candidatas.
Esquema semelhante ocorreu em Pernambuco, terra do atual presidente nacional do PSL, Luciano Bivar. Também há investigação da polícia nesse estado.
Bebianno também negou responsabilidade sobre os casos de Pernambuco. Em fevereiro ele já havia dito que atendeu a um pedido de repasse do diretório estadual. Inicialmente a sigla no estado negou a versão. Depois, a confirmou.
“À [direção] nacional do partido competiram duas tarefas, apenas: montagem da chapa para presidente e vice-presidente da República e montagem de 27 diretórios estaduais. Só isso”, disse Bebianno.
“Por sua vez, cada um dos 27 diretórios estaduais montou a sua própria chapa para governador, vice-governador, senadores, deputados federais e deputados estaduais. Em todos os casos, sem exceção, os nomes dos candidatos que compunham as chapas, homens ou mulheres, foram indicados pelos respectivos diretórios estaduais”, afirmou o ex-ministro, demitido após entrar em conflito com o presidente e com um de seus filhos, Carlos Bolsonaro, em decorrência da repercussão da revelação do esquema das laranjas do PSL.
Na época, o filho do presidente foi a público dizer que Bebianno mentira ao afirmar que havia conversado com Bolsonaro —na época internado— em meio ao escândalo. O presidente referendou a manifestação do filho.
Bebianno disse que em só quatro casos a direção nacional ofereceu ajuda financeira direta: para Janaina Paschoal (eleita deputada estadual por SP e que declinou da ajuda), Joice Hasselmann (deputada federal por SP), Dayane Pimentel (deputada federal pela BA) e Maura Jorge (candidata ao governo do MA, não eleita).
Segundo ele, algumas candidatas tentavam obter financiamento em contato direto com a Executiva nacional do PSL. “A [direção] nacional ignorava esses pedidos avulsos. Nenhum pedido que não tenha sido feito pelo diretório de cada estado foi aceito pela executiva nacional”, afirma.
“Imagine se seria possível eu, que acumulava a presidência do partido e a coordenação geral da campanha [de Bolsonaro], receber diretamente esse tipo de pedido?”
O ex-ministro afirma ainda que a exigência da legislação de que pelo menos 30% dos recursos sejam aplicados em candidaturas femininas “é um erro e acaba induzindo à indicação de candidatas sem muita expressão política”.
“Isso é um problema que afeta a todos os partidos. O PSL contava com R$ 9 milhões [para todo o país]. Imagine o MDB, com R$ 270 milhões. O PT, com R$ 240 milhões. Como terá sido isso?”
O ministro do Turismo sempre negou ter patrocinado candidaturas laranjas, afirmando que o partido cumpriu a legislação eleitoral. Em nota enviada por sua assessoria, disse que a escolha das candidatas e a destinação de recursos a elas atendeu à necessidade de combater a esquerda no Vale do Aço de Minas.
“A escolha das candidatas levou em consideração o fato de elas pertencerem ao Vale do Aço [3 das 4 candidatas suspeitas são dessa região], região historicamente dominada por partidos de esquerda. Para fazer um contraponto na disputa eleitoral, o partido decidiu investir na região.”
O PSL de Minas, que é controlado politicamente pelo ministro, enviou uma resposta semelhante, dizendo que “as verbas foram destinadas conforme estratégia de contrapor forças políticas adversárias”.
“Além das candidatas citadas pela reportagem, o mesmo volume de verba ou similar também foi destinado a outros candidatos, alguns vencedores e outros não. Infelizmente o partido não tem como prever quem serão os eleitos antes de destinar os recursos partidários”, completou.
Da FSP