Perícia do Exército mostra que carro de músico começou a ser fuzilado a 250 metros de distância

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O primeiro tiro que atingiu o músico Evaldo Rosa nas costas foi disparado a 250 metros de distância do carro em que ele e sua família estavam na tarde do dia 7 do mês passado, quando iam para um chá de bebê, em Guadalupe. A bala de fuzil atravessou a área do Piscinão de Deodoro e fez o motorista perder os sentidos.

Os militares que mataram Evaldo também acertaram o gradil do piscinão e, por oito vezes, o muro de um depósito da Comlurb. As informações constam de laudos periciais elaborados pelo Exército, que fazem parte do inquérito sobre o caso.

Os disparos começaram quando o carro dirigido pelo músico estava na esquina da Travessa Brasil e seguia para a Estrada do Camboatá. Logo após o veículo dobrar uma esquina, Evaldo foi alvejado: a bala entrou pela caixa de rodas na parte de trás, atravessou o banco do motorista e o acertou. De grande potência, outros tiros chegaram a varar o carro de uma ponta à outra.

Segundo a investigação, quando fizeram os primeiros disparos, 12 homens do Exército que integravam a guarnição haviam acabado de trocar tiros com homens que tinham roubado um veículo semelhante, num sinal de trânsito da Estrada do Camboatá. A mulher e o sogro de Evaldo, nos depoimentos que prestaram ao Ministério Público Militar (MPM), afirmaram que sequer notaram o assalto.

Para as promotoras Najla Nassif Palma e Andrea Helena Blumm Ferreira, que assinaram a denúncia contra os militares pelos homicídios de Evaldo e do catador Luciano Macedo, que tentou socorrê-lo, houve excesso dos integrantes do Exército na reação ao assalto. “A conduta dos denunciados desrespeitou o padrão legal de uso da força e violou regras de engajamento previstas para operações análogas, em especial o emprego da força de forma progressiva e proporcional e a utilização do armamento, sem tomar todas as precauções razoáveis para não ferir terceiros”, escreveram as promotoras na denúncia. O documento foi recebido pela Justiça Militar no sábado.

Os demais disparos que acertaram o carro foram dados de uma distância bem menor. Segundo a investigação, após a fuga dos assaltantes em dois carros brancos, os militares os perderam de vista e embarcaram novamente numa viatura. Pouco depois, os militares viram o carro de Evaldo a quase 300 metros de distância. O veículo, já atingido, estava parado, com o músico inconsciente ao volante. Nesse momento, Luciano tentou socorrer o músico. Segundo a perícia feita no local, a viatura parou a 43 metros do carro, e os militares desembarcaram.

Logo em seguida, os militares fizeram a maior quantidade de disparos, segundo a investigação do MPM. Três acertaram Luciano, e outros oito atingiram Evaldo. De acordo com a perícia do Exército, o carro de Evaldo foi perfurado por 62 tiros. No total, os 12 militares fizeram 257 disparos. O músico morreu no local. Já o catador foi levado ao Hospital Estadual Carlos Chagas, onde faleceu 11 dias depois.

Como O GLOBO revelou na semana passada, os militares afirmaram que só atiraram novamente porque Luciano estaria com uma pistola e teria tentado atacar a patrulha. Nenhuma arma, contudo, foi apreendida na cena do crime. Dayane Horrara, mulher de Luciano e testemunha do ataque, afirmou ontem que os militares mentiram:

— Mataram o Luciano no mês passado. Agora, querem matar meu marido de novo, dizendo que ele era bandido, mas a investigação mostra que isso não é verdade.

Nove dos 12 militares envolvidos no caso estão presos. Todos respondem por duplo homicídio e omissão de socorro.

De O Globo