Rússia e EUA discutem sobre escalada de tensão na Venezuela
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo , afirmou nesta quarta-feira que os Estados Unidos estão preparados para, se necessário, intervir militarmente na Venezuela . Pompeo também conversou por telefone com o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, e os dois voltaram a trocar acusações sobre a interferência dos respectivos governos no país sul-americano, que viveu uma escalada de tensões nas últimas 24 horas.
— O presidente (Donald Trump) foi cristalinamente claro e incrivelmente coerente. Uma ação militar é possível. Se for necessário, é o que os Estados Unidos vão fazer — disse Pompeo à rede Fox Business, ressalvando que “nós preferimos uma transição pacífica de poder, com a saída de Maduro e a realização de novas eleições”.
Uma viagem à Europa do secretário de Defesa interino dos EUA, Patrick Shanahan, foi cancelada por conta da situação na Venezuela. Por sua vez, o Pentágono negou ao Congresso que tenha recebido ordens de se preparar para um conflito militar.
— Nós, é claro, sempre revisamos as opções disponíveis e os planos para contenciosos. Mas, neste caso, não recebemos este tipo de ordens — disse Kathryn Wheelbarger, secretária assistende de Defesa para Assuntos de Segurança Internacional.
Já Lavrov alertou Pompeo na conversa desta quarta-feira que novos “passos agressivos” dos americanos na Venezuela poderiam desencadear “as mais graves consequências”, chamando a interferência dos Estados Unidos de “violação do direito internacional”. Pompeo, segundo o Departamento de Estado, respondeu com uma advertência oposta, afirmando que o envolvimento de Moscou e Havana com o governo de Nicolás Maduro ameaça “desestabilizar a Venezuela” e piorar ainda mais a relação entre a Rússia e os Estados Unidos, já em um dos seus pontos mais baixos desde a Guerra Fria.
Na terça-feira, Pompeo acusara a Rússia de ter convencido Nicolás Maduro a permanecer na Venezuela, quando o presidente já estava pronto para embarcar num avião para Cuba. O governo russo e Maduro, entretanto, negam. Para Moscou, trata-se de uma “campanha de desinformação”.
O conselheiro de Segurança Nacional americano, John Bolton, por sua vez, não quis detalhar o quanto os Estados Unidos sabiam sobre o envolvimento russo nos planos de Maduro para reagir à chamada “Operação Liberdade”, convocada na manhã de terça pelo líder opositor Juan Guaidó para colocar “fim definitivo à usurpação” do poder por Maduro. Mas deixou claro que a interferência de Moscou não era nada bem-vinda.
— Este é nosso hemisfério. Não é onde os russos devem interferir. É um erro da parte deles — disse Bolton a jornalistas no jardim da Casa Branca.
Com um balanço de 109 feridos e 119 pessoas detidas na terça-feira, a Venezuela poderá viver um novo dia de protestos nesta quarta. Guaidó convoca pelas redes sociais “a maior marcha da História” do país, enquanto o seu paradeiro permanece desconhecido.
Na noite de terça-feira, Maduro advertiu que haverá acusações penais contra os responsáveis pelo levante de um grupo militar contra o seu governo. Ele reconheceu que aquele havia sido um “dia difícil”, mas considerou que ao fim seus opositores “fracassaram em seu plano, fracassaram em seu chamado, porque o povo da Venezuela quer paz, salvo uma minoria”. Ele também agradeceu a lealdade das Forças Armadas pela “derrota do pequeno grupo que pretendeu levar a violência (à Venezuela) com a escaramuça golpista”.
— Isso não pode ficar impune, falei com o Procurador Geral. Designei três promotores que já estão interrogando todos os envolvidos e dirigindo acusações penais pelos graves crimes contra a a Constituição, o estado de direito e o direito à paz — disse o presidente em pronunciamento televisionado, no qual apareceu ao lado do ministro da Defesa, Vladimir Padrino.
A onda de violência foi desencadeada por um vídeo publicado no Twitter por Guaidó às 05h47 de terça-feira, no qual, cercado de militares perto da base militar de La Carlota, o opositor afirmava ter obtido o apoio das Forças Armadas contra Maduro. Ele convocou os venezuelanos às ruas para o que chamou de “Operação Liberdade”, anunciando “o fim definitivo da usurpação” do poder por Maduro.
A ação opositora foi adiantada em um dia, uma vez que já haviam sido convocados protestos massivos para esta quarta-feira, Dia do Trabalhador. O feriado dialoga bem com a tentativa de Guaidó de conseguir apoio de sindicatos e trabalhadores públicos, tradicional base de apoio para Maduro e seu antecessor, o ex-presidente Hugo Chávez.
Embora Guaidó conte com apoio dos Estados Unidos e vários outros governos ocidentais — incluindo o Grupo de Lima, formado por 14 países das Américas, incluindo Brasil e Colômbia —, a cúpula das Forças Armadas não deu indicativos de que tenha abandonado Maduro. O presidente é ainda apoiado por Rússia, China e Cuba. Foi demitido, entretanto, o chefe do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin), que teria escrito uma carta rompendo com o presidente, afirmando “ter chegado a hora de procurar novas maneiras de fazer política” e de “reconstruir o país”.
De O Globo