Abacate, peso real e três pinos: agenda de Bolsonaro é inútil e vergonhosa
Nos seis primeiros meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro tem surpreendido até mesmo auxiliares mais próximos com anúncios de medidas que não fazem parte da agenda prioritária de reformas. Enquanto o texto da reforma da Previdência era discutido na Comissão Especial, o presidente esteve na Câmara para entregar a proposta de alterações no Código de Trânsito , no início do mês. A iniciativa foi classificada como “falta de noção de prioridade” pelo presidente da comissão, deputado Marcelo Ramos (PR-AM).
As propostas de trânsito ainda estavam sendo conhecidas quando, dois dias depois, o presidente e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em viagem à Argentina, anunciaram que o Brasil e o país vizinho pretendiam avançar com a proposta de criar uma moeda comum, o “peso real”. O anúncio logo foi desmentido pelo Banco Central brasileiro.
Bolsonaro celebrou pelo Twitter, em maio, a abertura do mercado argentino para o abacate brasileiro, que representa apenas 0,007% do valor total das exportações brasileiras, depois de prometer “acabar com o fantasma” da importação de banana do Equador, com a restrição à entrada do produto no país.
O presidente também surpreendeu ao afirmar, no início do mês, que há estudos no governo para a troca das cédulas de R$ 100 e R$ 50 com o objetivo de obrigar que o dinheiro seja depositado no sistema financeiro ou colocado em circulação.
Outro caso emblemático é a proposta de transformar a Estação Ecológica de Tamoios, em Angra dos Reis (RJ), em uma espécie de Cancún brasileira. Nessa região, Bolsonaro foi multado pelo Ibama por pesca ilegal em 2012.
O cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Malco Braga Camargo afirma que, em casos como esses, o Judiciário e o Legislativo devem servir como peso e contrapeso do Executivo.
— Tanto o Legislativo quanto o Judiciário devem controlar esses rompantes para que algumas pautas possam ser contidas. E isso deve acontecer em alguns casos, já que não vemos nesse governo a tentativa de convencer esses atores de seus ideais e de usar a expertise técnica para a estruturação das propostas — afirma o pesquisador.
O professor da USP e cientista político Gaudêncio Torquato acredita que parte das declarações e ideias do presidente é resultado da falta de articulação política.
— Diante dos conflitos que vêm do Executivo, a área política, ao perceber a instabilidade do comportamento do Bolsonaro, tende a criar uma pauta própria, dentro dos anseios da população — afirma o professor.
De O Globo