Bolsonaro corre atrás de contornar brigas que arrumou com europeus
Após um primeiro dia turbulento no Japão, no qual reagiu com irritação a pressões internacionais em torno da política ambiental brasileira, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) iniciou sua participação na cúpula do G20 com encontros para acalmar os ânimos europeus.
Após ser criticado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, e pela chanceler alemã, Angela Merkel, que expressaram preocupação sobre o desmatamento na Amazônia e o risco de o Brasil deixar o Acordo de Paris, Bolsonaro se reuniu com os dois líderes, ainda que de maneira improvisada.
Antes mesmo de ocorrer, a conversa com o francês foi permeada por polêmicas.
Por volta das 23h, no horário de Brasília, de quinta-feira (27), o porta-voz da Presidência, general Rêgo Barros, informou o cancelamento da reunião, gerando especulações sobre as críticas do francês e as reações do presidente brasileiro e do general Augusto Heleno.
O ministro do Gabinete de Segurança Institucional acompanha Bolsonaro no Japão. Ao ser questionado na quinta sobre as declarações de Merkel e Macron, disse que os “países não têm moral para falar da preservação de ambiente do Brasil”. E emendou: “Vão procurar sua turma”.
Quatro horas depois do anúncio do cancelamento, no entanto, Macron e Bolsonaro se reuniram informalmente por não mais que 30 minutos na chamada zona vermelha, área onde os líderes participantes da cúpula circulam.
Segundo Rêgo Barros, os presidentes falaram sobre questões climáticas, a fronteira entre Brasil e Guiana, comércio internacional e o acordo entre União Europeia e Mercosul.
Bolsonaro, ainda de acordo com o porta-voz, convidou o francês para visitar a região amazônica e reafirmou o compromisso de manter o país no Acordo Climático de Paris.
Integrantes da comitiva de Macron disseram à Folha que nunca houve uma agenda formal com Bolsonaro, e que Macron queria dar ar de informalidade à conversa. Repórteres franceses relataram não terem sido avisados do encontro.
Rêgo Barros se mostrou irritado com o volume de perguntas sobre a reunião, marcada inicialmente para as 2h25 (de Brasília) desta sexta.
O porta-voz afirmou que o líder francês havia proposto adiantar o encontro para a noite (horário local) de quinta (27), o que Bolsonaro rejeitou, uma vez que desembarcara horas antes. Após chegar a Osaka, o presidente circulou pela cidade e jantou em uma churrascaria brasileira.
Já a alemã Angela Merkel afirmou na quarta (26), véspera do embarque para o G20, que estava preocupada com a situação ambiental brasileira e que queria ter uma “conversa clara” com Bolsonaro.
O brasileiro, então, deu uma resposta dura, afirmando que não aceitaria advertências de outros países.
Os dois se reuniram nesta sexta (28), em encontro que não constava das agendas. Segundo Rêgo Barros, que não soube dizer os temas abordados pelos líderes, o clima foi amistoso, botando panos quentes na tensão que permeou a chegada de Bolsonaro.
As reuniões se deram em meio a uma queda de braço sobre o tom que o relatório final do G20 terá sobre a questão climática, considerada um dos pontos de maior dificuldade para consenso.
Enquanto europeus defendem o cumprimento do Acordo de Paris, os americanos, que abandonaram o tratado em 2017, pressionam aliados para uma visão mais flexível sobre a política ambiental.
Para o embaixador Norberto Moretti, secretário de Política Externa Comercial e Econômica do Ministério das Relações Exteriores e membro da comitiva brasileira no Japão, o país “se mantém parte do Acordo de Paris”. “Não há nenhuma dificuldade por si só de mencionar o acordo e sua implementação, coisa que já foi tida e repetida neste governo.”
A posição é a mesma propagada pelos Brics após reunião nesta sexta. O grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul divulgou nota na qual afirma comprometimento “com a plena implementação do Acordo de Paris”.
Durante a campanha de 2018, Bolsonaro afirmou várias vezes que deixaria o acordo, por considerá-lo uma ameaça à soberania brasileira.
O presidente, que falou por cinco minutos no encontro do bloco, disse que correntes protecionistas e práticas econômicas desleais causam “tensões comerciais e põem em risco a estabilidade das regras internacionais de comércio”.
Afirmou ainda que o governo apoia o sistema multilateral de comércio e defendeu a reforma da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Em clima mais ameno do que o contexto que gravitou em torno das conversas com Macron e Merkel, o presidente fez ainda uma reunião bilateral com o americano, Donald Trump, de quem é aliado.
Na conversa, recheada de trocas públicas de elogios, os mandatários discutiram a situação da Venezuela, a guerra comercial com a China e a entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
“Ele é um homem especial, que está indo muito bem e é muito amado pelas pessoas do Brasil”, disse Trump ao se referir a Bolsonaro, que convidou o colega para viajar ao país.
O brasileiro disse gostar muito do presidente americano. “Sempre o admirei, desde antes das eleições, temos muita coisa em comum. Somos dois grandes países que juntos podem fazer muito pelos seus povos”, afirmou.
Também em tom elogioso, Trump disse que o Brasil é um “país tremendo” e que está entusiasmado para visitá-lo.
Ambos os presidentes terão encontros bilaterais com o dirigente chinês, Xi Jinping, no sábado (29), segundo e último dia da cúpula do G20.
A guerra comercial entre EUA e China deve ser o maior foco na reunião bilateral.
Quando perguntado sobre qual seria o papel do Brasil como aliado dos EUA na disputa, Trump deu uma resposta evasiva e confusa.
“Não é uma questão de ajudar, é uma questão de se vamos ou não fazer algo. Como temos uma boa oportunidade, vamos ver o acontece, no fim as coisas vão acontecer e boas coisas acontecem.”
Da FSP.