Despencando, Bolsonaro ainda não governa e retoma rotina de campanha
Seis meses depois de tomar posse como presidente, Jair Bolsonaro retomou o clima de campanha eleitoral . Nas últimas semanas, ele intensificou a agenda de atos públicos em diversas cidades brasileiras.
O contato quase diário com a imprensa, como costumava fazer em seu périplo pelo país no ano passado, voltou a fazer parte da agenda. Também repetindo 2018, sua assessoria tem distribuído a jornalistas, por WhatsApp, vídeos que mostram o contato de Bolsonaro com apoiadores entusiasmados.
A modulação na postura, depois de um início de governo restrito ao Palácio do Planalto, ocorre após pesquisas de opinião indicarem queda nos índices de popularidade.
Desde o início deste mês, Bolsonaro saiu nove vezes de Brasília. Passou por dez cidades diferentes. A capital paulista, a mais populosa do país, entrou quatro vezes no roteiro presidencial. O giro incluiu um destino internacional: Buenos Aires.
Em maio, foram 11 as cidades visitadas nas dez vezes em que viajou. Todas as regiões brasileiras foram contempladas nessas incursões. Já em abril, Bolsonaro deixou a capital federal apenas quatro vezes, uma a menos que em março.
Na mais recente viagem oficial, quando participou da Marcha para Jesus em São Paulo, na última quinta-feira, Bolsonaro afirmou que tentará um novo mandato em 2022 “se não tiver uma boa reforma política” e “se o povo quiser”. Mais cedo, já havia citado a possibilidade de reeleição durante um ato em Eldorado, cidade do interior paulista onde passou parte da infância. Ao discursar em uma praça, ele disse que “lá na frente”, todos votarão nele.
O recolhimento do presidente nos primeiros meses do mandato ocorreu na esteira da cirurgia a que ele se submeteu no fim de janeiro para a retirada de uma bolsa de colostomia. O procedimento foi seguido por 17 dias de internação. Foi a terceira operação em decorrência da facada que levou no abdômen durante a campanha eleitoral.
Em fevereiro, quando Bolsonaro passou metade do mês no hospital, houve apenas uma viagem, à Foz do Iguaçu (PR). Em janeiro, o presidente foi a Davos, na Suíça, e a Brumadinho (MG).
O presidente tem demonstrado bom humor nas agendas públicas. Nas viagens, ele tem sido recebido por apoiadores, como no passado, aos gritos de “mito”. Nas imagens divulgadas pelos assessores, Bolsonaro costuma aparecer cumprimentando a população ou em situações mais íntimas, como cantando com a mãe em Eldorado.
Nos vídeos que registram sua chegada à cidade do interior de São Paulo, de helicóptero, o presidente aparece com os olhos marejados ao ver apoiadores à sua espera. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) escreveu em uma rede social que “essa é a melhor pesquisa”.
Até mesmo a agenda do presidente lembra a do candidato. Compromissos considerados pessoais pela assessoria da Presidência são mantidos em segredo até que aconteçam. As agendas de Bolsonaro no ano passado raramente eram divulgadas previamente e eram alteradas com frequência.
Recentemente, em menos de dez dias, Bolsonaro foi três vezes a estádios assistir a partidas de futebol.
Ontem, ele fez um tour por clubes de Brasília. Antes, parou em um supermercado no bairro onde morava quando era deputado, onde disse que “sempre fazia compras”.
Acompanhado por homens do Gabinete de Segurança Institucional, ele foi abordado por dezenas de apoiadores, que pediam para tirar fotos e chegou a ser aplaudido. O ajudante de ordens do presidente carregou a cestinha e colocou seis shampoos, a pedido dele. Os produtos foram pagos pelo auxiliar.
A parada seguinte foi no Clube Pandiá Calógeras, no Setor Militar Urbano, onde Bolsonaro costumava jogar futebol. Perto dali, a comitiva parou no Clube do Exército. Antes de voltar para casa, ele ainda passou pelo Clube de Associados da Aeronáutica de Brasília.À reportagem, o presidente explicou que queria “dar uma saída do Alvorada”.
De O Globo