Governo Bolsonaro passa a viver sob a sombra da CPMI das ‘fake news’

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Uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar o uso de fake news nas eleições de 2018 está na iminência de ser instalada no Congresso Nacional. Ela já foi protocolada pelo deputado federal Alexandre Leite (DEM-SP) na terça-feira (4), com a assinatura de 276 deputados e 48 senadores, mais da metade do Parlamento. Caso sua instalação se confirme, o colegiado passará a pesar como uma ameaça permanente a Jair Bolsonaro.

Não só pelo potencial de desvendar mistérios envolvendo os “robôs” e notícias falsas que, segundo a oposição, foram responsáveis, pelo menos em parte, pela eleição do presidente e parlamentares aliados, como também – e talvez com consequências ainda piores para o governo – pela capacidade que a comissão terá de alimentar a mídia com informações e manchetes contra o governo.

Além da ameaça no Congresso Nacional, onde se daria um eventual pedido de impeachment, a CPI vai ao encontro da investigação do inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal, a pedido do presidente  Dias Toffoli, em março, para apurar as difamações e ameaças à Corte por fake news.

O alcance eventualmente destrutivo da CPMI vai depender da disposição da mídia, do mercado e do Congresso. Num ambiente de economia em declínio, desemprego crescente e a já proverbial desarticulação do governo, o crescimento dessa disposição pode ser devastador para o governo Bolsonaro.

É digno de nota o fato de que o deputado Alexandre Leite foi à luta para colher as assinaturas com o óbvio aval do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que é do mesmo partido.

“É significativo que tenha chegado a ser protocolada. Mas a partir da composição é que se poderá ter uma definição melhor, já que o governo pode conseguir colocar parlamentares aliados em posições importantes. De toda maneira, a comissão pode vir a trazer mais evidências de como as fake news foram utilizadas nas campanhas, e aí sim pode ter desdobramentos”, diz a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

A ambiguidade de Rodrigo Maia e sua movimentação dissimulada lembram mais um político mineiro do que carioca. “A meu ver, ele está se cacifando para ser potencial candidato em 2022, daí a ambiguidade no comportamento. Ele sabe que agora precisa do apoio do Centrão, e mesmo de outros setores da oposição, como o próprio PT e outros partidos. Mas também fica numa posição em cima do muro”, observa. Os movimentos de Maia ora vão na direção de Bolsonaro, ora, discretamente, na da oposição.

Para Maria do Socorro, o movimento de Maia é calculado e procura ocupar um espaço político. “Como o próprio PSDB está se definindo para a direita, é necessária uma força que se coloque nessa posição de centro. Na verdade, Rodrigo Maia está sendo político.”

O governo e seus aliados, por sua vez, estão tentando se recompor depois de cinco meses de paralisia política, confusão e conflitos. Sinal disso, aponta a analista, é que  algumas figuras que se colocavam como protagonistas da cena política governamental desapareceram nas últimas semanas.

“São os casos de Olavo de Carvalho e do vice-presidente Hamilton Mourão, que criavam discórdias. Esses dois atores estão calados no momento. O governo está tentando funcionar na questão econômica com mais força, com o ministro da Economia (Paulo Guedes) aparecendo, e o da Justiça (Sérgio Moro), que tinha sumido, voltou à cena”, anota Maria do Socorro.

“Ou seja, eles tiraram os atores que não estão envolvidos com as agendas que tentam passar como positivas, e nem vamos falar do projeto do trânsito, que é um absurdo. Mas me refiro aos projetos da segurança e da Previdência.”

Nesta sexta-feira, Moro esteve em em Chapecó, acompanhado do governador de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva, onde conheceu o Complexo Penitenciário da cidade e defendeu a disseminação de boas práticas no sistema penitenciário.

Da RBA