Nos Estados Unidos, Dallagnol afirma que no Brasil é comum juízes e procuradores conversarem
Durante uma palestra nos Estados Unidos, o procurador da República, Deltan Dallagnol, foi questionado sobre o vazamento de mensagens com o ministro da Justiça, Sergio Moro, então juiz responsável por casos da Operação Lava-Jato em primeira instância. Na fala, Dallagnol defendeu a Lava-Jato e disse que os procuradores estão “tranquilos” porque não cometeram nenhuma irregularidade nas investigações.
“Foi um crime, eles roubaram mensagens. Mas, mesmo que tenham tudo, estamos absolutamente tranquilos. Mantivemos os mais altos níveis de rigor técnico ao longo da investigação. O grupo era formado por 15 procuradores que foram trocados ao longo do tempo”, disse na quinta-feira, 20.
Dallagnol diz que não pode confirmar se as mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil se são verdadeiras ou não. “Depois do ataque, nós saímos do aplicativo e apagamos tudo”, justificou, ressaltando que as mensagens foram divulgadas de modo distorcido, com o intuito de atacar a Lava-Jato. “Estamos muito confiantes de que o que fizemos foi legal. No Brasil, é muito comum que procuradores conversem com juízes sem a presença da outra parte”, disse.
O site divulgou alguns diálogos entre o procurador e o agora ministro da Justiça. As conversas no aplicativo Telegram foram obtidas, segundo o The Intercept Brasil, por uma fonte anônima que compartilhou o material. De acordo com os trechos divulgados, Moro se queixou da apresentação de recursos que poderiam atrasar a execução de pena de um acusado, fez sugestões no cronograma de fases da operação e pediu que o MPF respondesse ao que chamou de “showzinho” da defesa de Lula. Em um outro trecho, divulgado na quinta-feira, Moro criticou para Dallagnol o desempenho da procuradora Laura Tessler, no processo do tríplex do Guarujá, em março de 2017. Após as mensagens, os procuradores Júlio Noronha e Roberson Pozzobon assumiram o caso. A troca foi feita pelo Ministério Público Federal (MPF).
Ao longo da palestra, realizada no think tank liberal americano Acton Institute, Dallagnol defendeu a Lava-Jato e apresentou uma reportagem do Fantástico de 2017 sobre a condenação de Sérgio Cabral. “A Lava-Jato faz o escândalo Watergate parecer um bando de crianças brincando”, disse. O procurador fez piadas sobre a série O Mecanismo, dizendo que o único personagem 100% verdadeiro é a corrupção brasileira, e que sua única reclamação é ser “muito mais bonito que o personagem”.
De Veja