Péssima ideia, diz ex-BC sobre moeda única com Argentina
A ideia apresentada pelo presidente Jair Bolsonaro de criar uma moeda única para Brasil e Argentina é questionada por especialistas e gerou críticas no meio político.
O ex-diretor do (BC) Banco Central Alexandre Schwartsman afirma se tratar de uma ideia sem sentido.
“É uma péssima ideia”, disse. “Não é nem colocar o carro na frente dos bois, porque você não tem nem os bois ainda, nem o carro”.
O economista explica que uma integração monetária exige o cumprimento de uma série de etapas anteriores, como harmonização de políticas fiscal e cambial entre os países. Ele cita o caso do euro, que nasceu após décadas de processo de integração econômica, livre comércio e liberdade de mão de obra.
“Não temos nada remotamente parecido com isso. Supostamente, o Mercosul é uma união alfandegária. A gente não tem nem livre comércio, nem tarifa externa única”, afirmou.
Schwartsman ressalta que o nascimento da nova moeda ainda exigiria a criação de instituições supranacionais para cuidar do setor financeiro e da política fiscal. Leis comuns entre os dois países também precisariam ser aprovadas.
Para ele, a ideia contraria o discurso de Bolsonaro em defesa da soberania nacional.
“A gente abandonou o passaporte com o símbolo do Mercosul, mas estaria disposto a criar uma moeda única? [A proposta] envolve ceder uma soberania gigantesca”, disse.
Também ex-diretor do BC e responsável pelo centro de estudos monetários do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), José Júlio Senna afirma não ser otimista em relação ao resultado final da integração de moedas.
“É algo que precisa ser estudado com muito cuidado. O euro, por exemplo, está longe de ser algo que deu certo e foi bom para todos”, disse.
Senna diz não acreditar que alguém no Ministério da Economia esteja pensando em implementar uma ideia desse tipo de maneira apressada. Ele ressalta que todas as diferenças entre os países precisam ser avaliadas.
“Fico com a sensação de que é enganoso você achar que economias que sejam complementares podem se dar bem em uma integração. Elas têm que ser semelhantes nas suas estruturas”, afirmou.
A ideia de criar uma moeda única chamada “peso real” foi apresentada por Bolsonaro em viagem à Argentina. “Houve um primeiro passo para o sonho de uma moeda única”, disse.
O assunto foi discutido entre o presidente e o ministro da Economia, Paulo Guedes. O tema já teria entrado em pauta com o ministro da Economia de Mauricio Macri e idealizador do plano, Nicolás Dujovne.
Auxiliares de Guedes afirmam que a proposta pode mesmo ser tratada como um sonho, algo que pode ser positivo no futuro, mas que hoje não é nada além de uma ideia, um ensaio.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reagiu à proposta.
“Será? Vai desvalorizar o real? O dólar valendo R$ 6,00? Inflação voltando? Espero que não”, afirmou em sua conta no Twitter.
Também pelas redes sociais, o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, afirmou que “em vez de pensar a tolice da moeda única, Paulo Guedes deveria se concentrar, além da reforma da Previdência, na economia brasileira que não vai nada bem”.
Da FSP