
Flávio Dino, governador mais bem avaliado, de olho na presidência

Por trás da grosseria com os governadores “paraíbas” do Nordeste, o fato político: Jair Bolsonaro farejou que o governador do Maranhão, Flávio Dino – o principal alvo das indelicadezas – está trabalhando seriamente para ser o candidato da oposição à presidência da República em 2022.
Se vai chegar lá, é outra história, que começa com as dificuldades naturais de um pré-candidato do pequeno PCdoB. Mas a candidatura Dino hoje tem lógica para muita gente no campo da centro-esquerda.
Habilidoso na articulação e com bons números de popularidade no estado, o governador do Maranhão tem feito um périplo pelas cúpulas dos principais partidos de esquerda – dos quais, aliás, o PCdoB tem sido um tradicional e fiel aliado. Nesta terça-feira, por exemplo, esteve com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, e com uma de suas principais lideranças, o ex-governador de São Paulo, Márcio França.
Há meses Dino vem conversando também com personagens do PT, onde tem bons amigos, incluindo o ex-candidato a presidente Fernando Haddad e a presidente do partido, Gleisi Hoffmann. Jurista e ex-procurador, o governador tem sido também um incansável defensor da libertação do ex-presidente Lula. Vem suando mais a camisa para soltar Lula do que muitos petistas por aí.
Mas o comunista Flávio Dino, que de radical não tem nada, está também ampliando as conversas no espectro mais ao centro. Já esteve com Fernando Henrique Cardoso e – pasmem – até com o adversário histórico José Sarney para conversar sobre a crise e a atual conjuntura.
O que resultou de todos esses encontros ainda é cedo para dizer. A três anos das eleições, ninguém tem idéia do que pode acontecer, quanto mais coragem ou disposição para assumir compromissos de envergadura presidencial. Mas tanto integrantes do PT quanto do PSB e do PCdoB falam claramente na formação de uma frente de centro-esquerda para fazer oposição ao governo Bolsonaro. E reconhecem, no particular, que não é mais hora de sectarismos.
A frente incluiria também outros partidos, como o PDT, e setores incomodados com a direitização do PSDB, além do PSOL. Essas legendas têm, hoje, nomes para disputar a eleição em 2022, como Ciro Gomes, Guilherme Boulos e outros. Por isso, a conversa inicial com eles não passa por candidatura única, embora se possa chegar a isso.
Dirigentes do PT reconhecem que seria necessário um longo trabalho de convencimento interno para levar o partido – que teve um candidato com 47 milhões de votos em 2018 – a admitir o governador do PCdoB como cabeça de chapa em 2022. Mas não descartam a possibilidade – um sinal de amadurecimento. Quem sabe, depois de tudo, não terá chegado a hora de a esquerda se reinventar e o PT abrir mão da hegemonia? Alguns acreditam, inclusive, que, se estiver fora da cadeia, Lula poderá ser o grande articulador desse processo.
Da Veja