Datafolha pesquisa opiniões de Bolsonaro
Nas duas últimas semanas, o país assistiu a uma série de declarações extremadas e agressivas de Jair Bolsonaro (PSL). Muitas vezes se valendo de informações falsas, o presidente atacou ambientalistas, exaltou o período da ditadura militar e menosprezou o massacre no presídio de Altamira (PA), que deixou 62 mortos.
Cerca de um terço dos brasileiros, contudo, tem opinião similar à do presidente em aspectos como o golpe de 1964, demarcação de terras indígenas e política ambiental. É o que revelam os mais recentes levantamentos do Datafolha, que avaliaram a percepção dos brasileiros em diferentes assuntos, antes da mais recente onda de ataques verbais do presidente.
Não por acaso, também representam um terço da população os que, segundo a última pesquisa, avaliam o governo Bolsonaro como ótimo ou bom —são 33% com essa percepção. O levantamento, feito em julho, apresentou basicamente o mesmo resultado daquele registrado em abril, quando 32% aprovavam o presidente.
Outros 31% consideram o governo regular e 33%, ruim ou péssimo. Cerca de 1% não respondeu.
Abaixo, confira o que pensa a população a respeito de temas que foram alvo de declarações de Bolsonaro nos últimos dias.
MEIO AMBIENTE
Além disso, desde a campanha, o presidente tem defendido que seja alterado o status da Estação Ecológica (Esec) de Angra dos Reis (RJ). Ele, que tem uma casa na região, foi multado em 2012 por pescar em local proibido.
Segundo pesquisa Datafolha feita em 18 e 19 de dezembro —depois, portanto, da eleição de Bolsonaro— 35% acham que a política ambiental atrapalha o desenvolvimento do Brasil. Outros 59% discordam dessa frase.
TERRAS INDÍGENAS
Não é a primeira vez que Bolsonaro afirma que pretende legalizar a exploração de minério em território indígena. Ele também já disse várias vezes que, em seu governo, não vai permitir a demarcação de novas terras.
De acordo com levantamento do Datafolha feito em dezembro de 2018, 37% dos brasileiros acham que o governo deve reduzir as áreas destinadas a reservas indígenas, e 60% discordam.
DITADURA MILITAR
A declaração de Bolsonaro que provocou maior rechaço nos últimos dias foi a respeito de Fernando Santa Cruz, desaparecido em 1974 após ser preso por agentes da ditadura militar. Fernando é pai do atual presidente da OAB (Ordem dos advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz.
No dia 29, Bolsonaro disse, de maneira sarcástica, que poderia contar a Felipe como seu pai tinha morrido. O presidente também exaltou a ditadura e disse que os militares tinham sido responsáveis por salvar o Brasil e evitar que o país se tornasse “uma Cuba”.
Bolsonaro sempre foi um entusiasta do regime militar. Em março, ordenou aos quartéis que fizessem as “devidas comemorações” na data em que se completariam 55 anos do golpe de 1964 —ele também disse que não considera golpe a tomada de poder pelas Forças Armadas. Em 2016, durante uma entrevista à rádio Jovem Pan, disse que “O erro da ditadura foi torturar e não matar”.
Em abril deste ano, o Datafolha perguntou se o dia 31 de março de 1964 deveria ser comemorado ou desprezado. Defenderam a comemoração da data 36% dos entrevistados, e 57% afirmaram que deveria ser desprezada.
MASSACRE EM ALTAMIRA
“Pergunta para as vítimas dos que morreram lá o que eles acham”, disse Bolsonaro no dia 30, ao comentar o massacre de presos no presídio de Altamira, no Pará.
Em abril, 29% dos entrevistados pelo Datafolha afirmaram que a sociedade seria mais segura se a polícia matasse mais suspeitos (68% discordam dessa afirmação.).
POSSE DE ARMAS
Um dia antes, ao falar do episódio em que um morador de rua esfaqueou duas pessoas no Rio de Janeiro, Bolsonaro perguntou: “Não tinha ninguém armado para dar um tiro nele?”.
Em julho, 31% disseram que a posse de armas deveria ser um direito do cidadão para se defender (outros 66% são contrários).
ESTADOS UNIDOS
O governo tem priorizado as relações com os Estados Unidos. Bolsonaro também não esconde sua admiração ao presidente americano, Donald Trump. No dia 1º, ao lançar o programa Médicos pelo Brasil, Bolsonaro se disse “apaixonado” por Trump. “Eu não quero atacar o Trump agora não, que é meu ídolo, por acaso. Estou cada vez mais apaixonado por ele”, disse.
Eduardo Bolsonaro, deputado federal (PSL-SP) e filho do presidente, foi indicado para o cargo de embaixador em Washington. A nomeação ainda precisa ser aprovada pelo Senado.
Em dezembro passado, antes da posse de Bolsonaro, 29% dos entrevistados afirmaram ao Datafolha que o Brasil deveria dar preferência aos EUA em relação a outros países. Outros 66% disseram que não.