Deltan sabia que dados de suas palestras podiam gerar problemas legais
As mensagens no Telegram mostram que o procurador receava que a divulgação dos dados de suas palestras pudesse levar à descoberta de situações embaraçosas e consequentemente promover questionamentos legais e críticas.
Em 3 de julho de 2017, após um pedido de esclarecimentos da Folha sobre o assunto, Deltan disse a um assessor da Procuradoria que colegas da força-tarefa da Lava Jato compartilhavam dessa preocupação.
“Tenho pensado se devo soltar os nomes dos tomadores, mas o pessoal da FT acha que não, pq vão fuçar para dizer que um diretor da entidade tem isso ou aquilo, que o médico vinculado àquela unimed tá procesado por sonegação ou isso ou aquilo… acham que quanto mais ficar dando corda, pior será”, afirmou o procurador.
O assessor concordou com a posição de Deltan: “Sim, vão acabar querendo especular que vc deu palestra em entidade de tal pessoa que já foi citada em algo…. etc…”.
Palestras remuneradas do procurador Deltan Dallagnol entre fev.17 a fev.19, conforme mensagens, planilhas, contratos e recibos que circularam no seu aplicativo Telegram
Data | Contratante e local | Valor, em R$ milhares*
17.fev.17
Unimed Assis
28,8
Assis (SP)
21.abr.17
Unimed SC
36,0
Florianópolis
14.jun.17
Soc. Brasileira Cirurgia Plástica
35,9
São Paulo
22.jun.17
XP Corretora de Câmbio
35,9
São Paulo
20.jul.17
FIEC – CIC
29,0
Fortaleza
26.ago.17
B3
37,7
São Paulo
26.out.17
Sindicombustíveis
30,6
Curitiba
9.nov.17
Unimed Central Nacional
32,0
14.nov.17
Sicoob
20,9
Volta Redonda (RJ)
9.mar.18
Neoway
35,1
Florianópolis
4.abr.18
AML Consulting
28,5
São Paulo
25.mai.18
Assoc. Emp. de S. L. do Oeste
10,5
São Lourenço do Oeste (SC)
30.jun.18
Sindipostos Ceará
29,9
Fortaleza
2.ago.18
Unimed Porto Alegre
34,3
Porto Alegre
15.ago.18
Gartner
27,5
São Paulo
22.set.18
XP Corretora de Câmbio
32,5
São Paulo
17.out.18
Febraban
24,4
São Paulo
10.dez.18
ACI Santa Cruz do Sul
10,3
Santa Cruz do Sul (RS)
21.fev.19
Unimed Presidente Prudente
27,6
Presidente Prudente (SP)
11.fev.19**
Uniodonto de Campinas
33,9
O procurador buscou evitar até mesmo que a Corregedoria-Geral do Ministério Público Federal, órgão interno de fiscalização dos procuradores da República, tivesse acesso às informações sobre as palestras, como a Folha e o Intercept informaram em 8 de agosto.
A falta de transparência sobre as palestras remuneradas realizadas por membros do Ministério Público difere do que é previsto em lei para os juízes brasileiros.
Os magistrados são obrigados a informar quem são os contratantes de suas palestras para que os dados sejam publicados nos sites dos tribunais, conforme resolução do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). O objetivo da regra é permitir a verificação pública de eventuais situações de conflitos de interesse.
Da FSP