Secom veta propaganda de pacote de Moro
A Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) decidiu vetar a gravação de uma propaganda que seria produzida para defender o pacote anticrime do ministro Sergio Moro. O motivo do veto, segundo a coluna apurou, é que a história de violência que seria mostrada na peça publicitária contraria as bandeiras da “bala, bíblia e boi” defendidas pelo governo de Jair Bolsonaro.
A censura desagradou Moro, que aposta na campanha para ganhar o apoio da população na defesa de sua proposta, que tramita no Congresso. O personagem que tinha aceitado contar sua história na TV, mas depois teve a gravação cancelada por decisão da Secom, é Dirceu Moreira Brandão Filho, 53 anos, que mora em Passos, no sul de Minas.
A coluna apurou que o ministério da Justiça foi comunicado pelo chefe da Secom, Fabio Wajngarten, sobre o desgaste que a gravação com Dirceu poderia causar ao governo e à pasta. O argumento é que o autor do crime é um fazendeiro e a história narrada, apesar de se tratar de uma tentativa de homicídio, iria contra bandeiras defendidas pelo governo Bolsonaro como flexibilizar uso de armas no campo.
Em 1991, durante uma exposição agropecuária na sua cidade, Brandão Filho foi alvo de cinco tiros. Dois o acertaram, um na boca e outro na nuca. O autor dos disparos foi o fazendeiro Omar Coelho Vítor. A justificativa é que sua mulher teria sido “cantada” por Brandão Filho, que, na época, tinha 25 anos. Ele ficou cinco dias em coma e até hoje tem uma bala no corpo.
Esse caso foi o pivô da primeira decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o cumprimento de pena após uma condenação em segundo instância, em 2009. Na ocasião, a corte decidiu que o réu deveria ficar em liberdade até o processo transitar em julgado. Em 2016, porém, o Supremo reviu esse entendimento e a maioria dos ministros votou a favor do cumprimento da pena após condenação em segunda instância, regra que vigora hoje.
A ideia da produtora e do Ministério da Justiça era usar o caso de Brandão Filho para defender um dos principais pontos do pacote anticrime do ministro, que propõe transformar o entendimento atual do STF em lei.
Depois de procurado pela produtora que realiza a campanha publicitária, Brandão Filho aceitou contar sua história. Com o veto, porém, a propaganda não será mais gravada. A Secom não quis comentar o assunto.
A coluna entrevistou o personagem, que confirmou ter aceitado o convite.
Como foi feito o convite para a propaganda?
— Pediram para eu ir a São Paulo [gravar]. Eu estava muito ocupado e falei, “ah, acho custoso para mim”. Aí ele [o produtor] falou: “Então nós vamos aí”. Mas não sei por que, acho que não deu certo. Não vieram.
A produtora chegou a marcar a gravação?
— É, mas eles tinham que vir aqui. Daí, ele falou que dava certo. Ficou marcado para uma segunda-feira. Mas ele ligou no domingo, falando que não tinha dado certo.
O produtor falou por que não deu certo?
— Ah, não sei se foi patrocínio, não lembro. Ele falou que entraria em contato outra vez. Isso deve fazer uns 20 dias.
O senhor gostaria de fazer uma propaganda contando a sua história?
— Ah, eu acho, se puder ajudar em alguma coisa. Porque esse país é muita impunidade, tá custoso.
De O Globo