Sem cargo no governo, Carlos atua como consultor do pai

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Foto: arquivo pessoal

Um dos mentores da estratégia de comunicação do presidente desde a campanha eleitoral, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) tem usado o gabinete do pai no Palácio do Planalto para fazer reuniões e cobrar de ministros uma defesa mais enfática do presidente Jair Bolsonaro e do governo diante do que ele enxerga como “ataques” da imprensa.

Segundo auxiliares de Bolsonaro, embora não tenha cargo formal no governo, Carlos continua atuando como uma espécie de consultor informal do presidente nessa área.

Suas intervenções são dissociadas do trabalho da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), órgão subordinado à Secretaria de Governo (Segov), cujo titular é atualmente o general Luiz Eduardo Ramos.

Carlos esteve ontem pela manhã no Palácio do Planalto, enquanto o pai estava em Sobradinho (BA) para inaugurar uma usina solar flutuante na maior represa do Rio São Francisco.

Segundo fontes, ele despachou no gabinete do presidente e passou a maior parte do tempo com os assessores presidenciais Tercio Arnaud Tomaz e José Matheus Sales Gomes. Ambos foram funcionários do gabinete do vereador no Rio e hoje são responsáveis pelas mídias sociais e a comunicação pessoal do presidente.

A auxiliares de Bolsonaro, Carlos demonstrou descontentamento com a timidez com que alguns ministros têm defendido o pai diante de críticas da mídia a declarações do pai ou a ações de governo tidas como controversas. O Valor apurou que Carlos pediu diretamente a alguns ministros que sejam mais proativos.

Nesse sentido, são alvos da insatisfação do filho 02 de Bolsonaro, entre outros, todos os ministros palacianos.

Luiz Eduardo Ramos e Jorge Oliveira (Secretaria-Geral), que é amigo da família, têm tido uma atuação tímida nas redes sociais, na visão do vereador.

Fugindo ao seu estilo, Ramos chegou a defender o presidente na semana passada diante de críticas da imprensa a algumas das várias declarações controversas do presidente. “A mídia tradicional, que respeito muito e acredito ser um dos pilares para a democracia, ainda não entendeu que o presidente Bolsonaro é transparente, direto e não se preocupa com o politicamente correto”, escreveu. “O povo que o elegeu sabia disso e foi a razão de sua vitória.”

Já Onyx Lorenzoni (Casa Civil) precisaria fazer uma defesa mais fervorosa da Operação Lava-Jato e do procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa em Curitiba – sempre na opinião de Carlos.

As fontes ouvidas pelo Valor não citaram o quarto ministro do Palácio, Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). O general, porém, já foi alvo de críticas públicas de Carlos, que externou insatisfação com o trabalho do GSI no episódio em que um militar brasileiro foi preso em junho na Espanha ao desembarcar com cocaína em um avião reserva da comitiva presidencial.

Assim como Carlos, alguns auxiliares de Bolsonaro se dizem contrariados com a omissão do ministro da Justiça, Sergio Moro, quando Bolsonaro é criticado.

Na visão desse grupo, o presidente sempre faz questão de defender o ex-juiz ante as publicações dos vazamentos promovidos pelo site “The Intercept Brasil”, que têm colocado em xeque a imparcialidade dele como o magistrado responsável pelos processos da Lava-Jato em Curitiba.

Outro ministro visto como pouco proativo nas redes é Tarcísio de Freitas. Sempre elogiado por Bolsonaro, ele se restringe a observações sobre temas relacionados à pasta e raramente faz comentários políticos em sua conta Twitter – que inaugurou por orientação do presidente.

Um “problema” que parece sanado, segundo fontes do governo, é o excesso de protagonismo do vice-presidente, Hamilton Mourão, na mídia.

O próprio Bolsonaro, segundo fontes, orientou Mourão e os demais ministros do Palácio a manterem um perfil mais discreto. Mourão, que antes não se negava a comentar nenhum assunto, tem agora evitado contato frequente com jornalistas.

Do Valor