Após vexame, Bolsonaro se considera “objetivo e contundente”

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Foto: Adriano Machado/Reuters

O presidente Jair Bolsonaro fez a primeira avaliação pública de seu discurso durante a abertura da Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira (23), e classificou o pronunciamento de mais de meia hora como “bastante objetivo e contundente”, mas não “agressivo.”

Ao sair do hotel em que está hospedado em Nova York, o presidente afirmou que estava “tentando restabelecer a verdade” e negou que tenha atacado diretamente o presidente da França, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel. Os líderes europeus apontaram o risco de retrocessos na agenda do Brasil para o meio ambiente.

“Foi um discurso bastante objetivo e contundente, não foi agressivo. Eu estava buscando restabelecer a verdade das questões que estamos sendo acusados no Brasil”, afirmou Bolsonaro.

“Não citei o nome do Macron, nem o da Angela Merkel. Citei a França e a Alemanha como países que mais de 50% do seu território é usado na agricultura. No Brasil, é apenas 8%, tá ok?”, completou.

Horas antes, diante das delegações dos países que compõem a ONU, o presidente fez um discurso que reproduziu o repertório ideológico de seu grupo político, com ataques a outras nações e um tom de enfrentamento em relação às críticas sofridas por seu governo. Segundo o presidente, a imprensa estrangeira reproduz notícias falsas que contribuem para a repercussão negativa da crise na Amazônia, por exemplo.

Na ONU, Bolsonaro respondeu diretamente às cobranças e mencionou o que chamou de espírito colonialista, num tom inédito em discursos de líderes brasileiros na Assembleia Geral. “Um deles, por ocasião do encontro do G7, ousou sugerir aplicar sanções ao Brasil, sem sequer nos ouvir”, afirmou o brasileiro, em referência a Macron.

O objetivo de Bolsonaro era marcar no discurso o que ele classifica como uma nova era para o Brasil, segundo auxiliares. Nas palavras de um desses assessores, que participou diretamente da elaboração do texto, a imagem que o presidente queria imprimir era de um governo revolucionário.

Outro auxiliar que ajudou na construção do discurso afirmou que Bolsonaro quis dar “sua voz e estilo” ao pronunciamento. Durante o processo de construção do texto, ele disse algumas vezes que não queria se policiar ou se pautar por ideias que não mostrassem a direção de seu governo e fez prevalecer o tom mais assertivo da mensagem.

Folha apurou que o presidente ouviu opinião dos auxiliares que chegaram ao consenso de que o discurso deveria ser de mais transgressão do que moderação, para fazer com que a audiência “revisse paradigmas e não ficassem apenas em avaliações de superfícies.”

Após discursar na ONU, Bolsonaro assistiu à fala de Donald Trump e retornou ao hotel. Por volta das 14h de Brasília, saiu para almoçar com assessores. Disse a jornalistas que não sabia o local ao certo, mas iria “num podrão aí fora.” À noite, ainda de acordo com Bolsonaro, participará de um coquetel com o presidente dos EUA.

Desde segunda (23), a comitiva brasileira tenta um encontro entre os dois. Trump chegou a passar duas horas no hotel onde Bolsonaro está hospedado, em reuniões com os presidentes do Egito e da Coreia do Sul, mas não encontrou o brasileiro.

Da FSP