Brasileira foi a primeira pessoa a discursar na Cúpula do Clima
No meio de cerca de 60 líderes do mundo todo que discursaram na Cúpula do Clima na ONU realizada nesta segunda-feira, em Nova York, a primeira pessoa a subir no palanque e discursar foi uma jovem brasileira. Paloma Costa, de 27 anos, é estudante de direito da Universidade de Brasília e faz parte de diversos projetos ambientais, como o Engajamundo. Ela foi selecionada entre mais de 100 jovens pelo secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, para abrir o evento.
Em entrevista ao GLOBO ela diz que o resultado foi o mix de alegria, por poder participar de um momento tão importante, com decepção com o que viu e ouviu na ONU.
— Confio nos jovens. Vi coisas incríveis, mas saio bem desapontada. Não tem nenhum comprometimento. Fica claro que a gente está vivendo uma crise climática, e o resultado (do evento) foi muito pouco para o que a gente está precisando. Acho que o que eu falei no meu discurso, que a gente vai se reunir ano que vem para falar sobre a mesma coisa, foi, na verdade, algo como uma profecia.
Paloma conta que ficou feliz em ver diversos líderes prestando atenção e se engajando com seu discurso. Mas não acredita que isso irá resultar em ações.
— Não teve nada que tocou meu coração. Teve o Macron, que anunciou os U$S 500 milhões para o reflorestamento das florestas tropicais incluindo a Amazônia , mas só. Eu cheguei a falar rapidamente com (a chanceler alemã)Angela Merkel, a (ex-predidente chilena Michelle) Bachelet e outros líderes. Todas essas pessoas se disseram muito orgulhosas do meu trabalho, mas foi só isso — relata Paloma. — A gente reuniu vários jovens do mundo que têm propostas, e cadê nosso governantes transformando isso em políticas públicas?
‘É muito difícil falar com os representantes do Brasil’
A estudante também relatou a dificuldade de entrar em contato com as lideranças brasileiras. Paloma chegou a conversar com o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB) e com a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP). Mas conta que não conseguiu falar com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles .
— É muito difícil falar com os representantes do Brasil. Tentei conversar com eles em uma reunião preparatória que tivemos em Abu Dhabi, mas não consegui. Procurei representantes brasileiros aqui, mas também não consegui. É muito difícil achá-los. Eles também não me procuraram.
Paloma foi uma das jovens brasileiras que participou da Cúpula da Juventude para o Clima , que precedeu a Cúpula do Clima. Ela é coordenadora do grupo de clima do Engajamundo, pelo qual faz reuniões semanais que são disponibilizadas na internet, com jovens de todo o Brasil sobre questões ambientais que têm sido abordadas no Congresso.
Junto com outro brasileiro que participou da cúpula dos jovens, João Henrique Alves Cerqueira, ela também participa do Ciclimáticos, um coletivo que realiza um trabalho de documentação das histórias de pessoas impactadas pelas mudanças climáticas em locais vulneráveis.