Cintra chegou perto demais das contas da familícia
É verdade que o presidente Jair Bolsonaro se irritou primeiramente com Marcos Cintra em razão da defesa de uma espécie de CPMF. Mas não foi só por isso que o secretário da Receita caiu.
Ainda no governo de transição, em novembro, Bolsonaro ameaçou demiti-lo após Cintra declarar que defendia um novo tributo similar à CPMF. O presidente, eleito dias antes, chamou Cintra de “esse cara” – e demonstrou irritação com notícia de que havia um plano para recriar a CPMF no seu governo – o que ele havia negado durante a campanha.
Na ocasião, Bolsonaro disse que “não podia haver críticas” – e que quem queria criticar ou ser oposição tinha que estar fora do governo dele. Paulo Guedes assumiu o Ministério da Economia e Cintra, a secretaria da Receita.
Mas os problemas do secretário do primeiro semestre até hoje não se resumiram ao plano do novo imposto – pelo contrário.
Cintra entrou em rota de colisão com o presidente quando deu uma entrevista sugerindo que o novo tributo atingiria até o dizimo das igrejas, o que irritou o presidente, que tem forte base entre evangélicos, e levou Bolsonaro a desautorizar o secretário nas redes sociais.
Ao mesmo tempo, em outra frente, Cintra ganhou como desafeto a cúpula do Congresso Nacional. O motivo: foi às redes sociais, em meio à crise Maia-Bolsonaro, criticar os parlamentares.
Ainda em maio, Rodrigo Maia mandou avisar ao governo que ia tocar a reforma tributária sem Cintra como interlocutor.
Mais recentemente, no dia 21 de agosto, Bolsonaro disse que a Receita Federal “tem problemas” cuja solução passa por trocar “gente” no órgão.
De acordo com o presidente, todo o Estado brasileiro, o que inclui a Receita, está “aparelhado”. Nos bastidores, Planalto estava irritado com o que chamava de “devassa” da Receita contra seus familiares.
Semanas depois, Bolsonaro abriu uma brecha sobre a CPMF. O presidente disse que falou a Guedes que, para ter o novo imposto, só com uma compensação para os contribuintes. “Se não, ele [Guedes] vai tomar porrada até de mim”, afirmou o presidente.
Mas, o fato é que Cintra não era o único defensor da CPMF no governo. Estudos na equipe de Guedes seguem a mesma linha, inclusive com a anuência do presidente.
Com Cintra ou sem Cintra, o Congresso já mandou avisar a Bolsonaro: a CPMF não passa. O Planalto já sabe disso.
A demissão de Cintra é, também, pela defesa da CPMF – mas ele estava há meses na mira do presidente, a lista de irritação foi só aumentando – e o governo achou o caminho ideal para pedir sua demissão.
De G1