CNA e ruralistas atacam liberação de agrotóxico que mata lavouras

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Foto: Jonas Oliveira | Fotos Públicas

A velocidade e a inconsequência com que o governo Jair Bolsonaro (PSL) tem liberado o uso de agrotóxicos no país já começa a incomodar o próprio agronegócio – em tese, um dos principais beneficiários de tal política.

Em ofício protocolado no Ministério da Agricultura na última sexta-feira (30), ao qual o Brasil de Fato teve acesso, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) manifestam “preocupação com o futuro de toda a agricultura brasileira”, devido à liberação, em 22 de agosto, do herbicida dicamba.

Segundo os produtores, apenas uma variedade de soja geneticamente modificada é tolerante ao dicamba. Todas as demais seriam negativamente afetadas pelo produto, que, segundo o documento enviado ao Ministério, é altamente volátil (evapora e se espalha) em temperaturas acima de 29 graus.

Além da soja, o dicamba mataria também lavouras de algodão, batata, café, cítricos, feijão, leguminosas, tomate, uva e milho, entre outras.

De acordo com a Associação Brasileira dos Defensivos Genéticos (Aenda), apenas três grandes companhias multinacionais produzem herbicidas à base de dicamba, entre elas a Bayer-Monsanto.

Não por acaso, é a mesma Bayer-Monsanto que detém a tecnologia para produção de sementes resistentes ao dicamba – chamada de Intacta 2 Xtend – e está programando seu lançamento comercial no Brasil para 2021.

A semente já foi “apresentada” a produtores Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia num grande evento denominado Gigantes da Soja, realizado entre o fim de 2018 e começo de 2019.

Operação casada

No ofício enviado ao ministério, a CNA e a Aprosoja lembram que, nos EUA, onde o dicamba foi liberado em 2016, quase 4 milhões de hectares de soja foram danificados, o que gerou 2.700 processos judiciais. Com isso, vários estados norte-americanos teriam estabelecidos restrições ao uso do herbicida.

Os produtores lembram ainda que a volatização do produto seria ainda maior no Brasil, devido ao clima tropical do país.

“Ademais”, diz o texto, “a tecnologia Xtend virá associada a outras biotecnologias (…), tendo que ser adquiridas como se em ‘pacote fechado’, nada menos que uma venda casada”.

Em entrevista ao Canal Rural no último dia 23, o presidente da Aprosoja, Bartolomeu Braz, criticou a liberação.

“Não podemos aceitar esse domínio de mercado. O Brasil já evoluiu bastante, temos um clima tropical e ao que parece não temos a necessidade de usar esse produto. Nosso manejo é diferente dos americanos e precisa ser pensado de maneira diferente”.

O documento das entidades representativas do agronegócio não chega a exigir a proibição do dicamba, mas pede o estabelecimento de medidas de controle, a elaboração de mais pesquisas, tendo em vista as características do clima brasileiro, e a “responsabilização da empresa detentora da biotecnologia”, em casos de danos às lavouras.

Do BdF