Desfiles: no planalto, o teatro; nas ruas, os protestos
O presidente Jair Bolsonaro participou neste sábado (07/09), em Brasília, de seu primeiro desfile de 7 de Setembro como chefe de Estado. A celebração do Dia da Independência foi marcada por quebra de protocolo por parte do presidente e protestos contra o governo em várias cidades do país.
Com a faixa presidencial no peito, Bolsonaro chegou à Esplanada dos Ministérios em carro aberto antes das 9h da manhã (hora local), com o filho Carlos Bolsonaro (PSL-RJ) sentado na parte de trás do Rolls Royce do Palácio do Planalto, numa cena que repete a posse em 1º de janeiro.
No caminho até a tribuna de honra, ele convidou um menino vestido com uma camisa da seleção brasileira de futebol para se sentar ao lado dele no carro presidencial.
De vestido amarelo, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o esperava no palanque ao lado da filha Laura, de 8 anos. Outros filhos de Bolsonaro, o deputado federal Eduardo (PSL-SP) e o senador Flávio (PSL-RJ), também o aguardavam.
Além de seus familiares, o presidente esteve cercado de empresários e religiosos que o apoiam, como Silvio Santos, do SBT, Luciano Hang, da Havan, e o bispo da Igreja Universal Edir Macedo, dono da Record. Também estiveram presentes políticos, ministros e embaixadores.
Com capacidade para 200 pessoas, o palanque presidencial ainda contou com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e a líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que foi vestida nas cores da bandeira. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), viajou ao Catar e não esteve presente.
Em determinado momento, Bolsonaro desfilou abraçado ao ministro da Justiça, Sergio Moro, em uma demonstração pública de apoio ao ex-juiz, após situações de constrangimento entre os dois nas últimas semanas envolvendo a troca no comando da Polícia Federal.
O presidente ainda surpreendeu sua equipe de segurança ao quebrar o protocolo e sair da tribuna de honra para saudar o público presente na Esplanada, que gritava chamando-o de “mito”.
“Os seguranças ficam um pouco preocupados aqui, mas é um pequeno risco que a gente corre. E a gente acredita que isso aí, esse pequeno risco, ajuda a despertar o sentimento patriótico do povo brasileiro”, disse Bolsonaro.
Segundo o Palácio do Planalto, a cerimônia contou com 2 mil militares fazendo a segurança, num esquema semelhante aos de anos anteriores. Neste ano, contudo, havia atiradores de elite no alto dos prédios dos ministérios nas proximidades da tribuna.
Em outro momento, Bolsonaro vestiu um boné da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e aplaudiu a passagem de membros da Polícia Federal. Ele também foi até a banda dos Dragões da Independência, pegou uma batuta e se fez de maestro.
“Parabéns para o povo brasileiro por essa data. É a nossa independência, mas devemos também preservar a nossa liberdade. Parabéns ao povo brasileiro que parece que renasceu e voltou a comemorar essa data tão importante para todos nós”, afirmou Bolsonaro após o evento.
O slogan do desfile de 7 de Setembro foi “Vamos valorizar o que é nosso”, uma frase que foi espalhada em cartazes ao longo do local do evento. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, uma cartilha distribuída na Esplanada trazia um texto sobre a valorização do patriotismo, o Hino Nacional e a programação do desfile.
A mensagem vem num momento em que o governo brasileiro tem vivido tensões com líderes estrangeiros por conta das queimadas na Amazônia. Em troca de farpas com Emmanuel Macron, Bolsonaro chegou a acusar o presidente francês de se intrometer em assuntos do Brasil.
Segundo a Agência Brasil, a estimativa preliminar da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal e do Comando Militar do Exército é de que entre 25 mil e 30 mil pessoas assistiram ao desfile em Brasília neste sábado.
Protestos antigoverno
O 7 de Setembro também foi marcado por manifestações contrárias ao governo em algumas cidades do país. Em São Paulo, manifestantes saíram às ruas vestidos de preto para criticar políticas de Bolsonaro, bem como pedir a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e medidas de proteção à Floresta Amazônica.
Organizada por grupos de esquerda e movimentos estudantis, a marcha do Grito dos Excluídos ocorre tradicionalmente todos os anos no Dia da Independência.
Neste ano, a cor preta foi encorajada como símbolo de luto, em protesto ao pedido de Bolsonaro para que as pessoas saíssem às ruas de verde e amarelo neste sábado. Na avenida Paulista, uma faixa preta com a frase “Luto pelo Brasil” ocupava duas faixas da via. “Fora Bolsonaro” e “Lula livre” estavam entre os gritos entoados.
A Polícia Militar estimou a participação de 2 mil pessoas, enquanto os organizadores da marcha falam em “mais de 10 mil” manifestantes.
Em Recife, as manifestações condenaram ainda os cortes de verbas recentes na educação, bem como a morosidade do governo em agir contra as queimadas na Amazônia.
Também houve atos em Belo Horizonte, Brasília, Maceió, e Salvador, onde os participantes do Grito dos Excluídos saíram às ruas de preto ou de vermelho, cor tradicional entre movimentos de esquerda.
De DW