divulgação/reprodução Twitter

“Esquerdo-machos criticam o PTinder”, diz co-autora

Todos os posts, Últimas notícias
divulgação/reprodução Twitter
divulgação/reprodução Twitter

A ideia começou quando a advogada e escritora Maria Goretti Nagime colocou, na internet, a foto de um amigo contando que ele era solteiro e de esquerda. Choveu gente interessada. Paralelamente, a física, professora e escritora Elika Takimoto fez o mesmo no Instagram. “Um amigo pediu pra eu dizer que ele estava solteiro e acabei acrescentando: além de solteiro, é super Lula livre.” Dessa conjunção de ideias e da vontade de promover amor, alegria, energias positivas e parcerias construtivas nasceu a proposta do PTinder, uma plataforma de relacionamentos voltada para pessoas de esquerda.

A dupla não esperava a forte repercussão. O assunto foi o mais comentado do Twitter no Brasil durante praticamente todo o dia na quarta-feira (25). Goretti procurou Elika e decidiram tocar a empreitada. “É isso que a galera quer: participar, se encontrar, beijar na boca, sexo, conversar muito, pra ver se a gente passa por esse período de uma forma mais leve. Porque os problemas continuam aí. Se a gente conseguir se divertir, a gente consegue encarar, com o peso e a seriedade que isso exige, sofrendo menos e passar por isso sem surtar”, afirma Elika Takimoto.

As “inventoras” do PTinder creditam a repercussão ao fato de brasileiros e brasileiras preocupados com a situação do país estarem precisando de “um pouco de leveza”, como explica a professora, em entrevista à Rede Brasil Atual (ouça íntegra da entrevista no site da Rede Brasil Atual). “A maioria das pessoas levou isso na brincadeira, mas falou que era um aplicativo, uma plataforma de fato necessária. Aí a gente percebeu que a demanda era muito maior que a gente estava imaginando.”

A proposta é começar pelo Instagram – o que deve ocorrer nos próximos dias – e construir um aplicativo para o futuro. “Dá pra gente colocar vídeos, histórias, fotos”, explica Elika, lembrando que uma das inspirações foi ver o “punhado de gente deprimida, triste, com medo, passando por esse momento difícil do Brasil.”

“Então, qualquer tentativa de a gente se encontrar pessoalmente, abraçar, ir a um lugar onde tenham pessoas que não vão nos agredir, a gente acha que isso é válido”, diz. “O PTinder é uma tentativa de promover encontros, de brincar um pouco, de forma séria, pra gente tentar passar por esse momento de forma mais leve”, reforça a física, que é coordenadora do campus Maracanã do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) do Rio de Janeiro.

Partidões de esquerda

Além de querer ajudar pessoas que estão deprimidas, conta Elika, a outra inspiração vem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Uma pessoa que está livre e solta, em termos de consciência, em termos de paixão”, diz. “Cada vez que ele se apresenta está mais elegante, mais sorridente, com mais firmeza, mais esbelto e cada vez mais apaixonado”, derrete-se.

“Certamente quando ele sair de onde está, vai casar com a lindíssima e empoderadérrima Janja”, comemora. “E claro que quando a gente vê uma pessoa apaixonada e feliz, pensa: cara, a gente tá precisando um pouquinho desse remédio que é a consciência tranquila e se apaixonar, se encontrar, ver amigos.” Tudo isso inspirou a ideia, como ela diz, “maluca”.

“Vamos priorizar o conteúdo no lugar da forma”, avisa. Formação, o que gosta de ler, o que se pensa sobre determinada pauta, são exemplos de coisas que vão situar as pessoas no PTinder.

“Vamos ter partidões de esquerda”, revela Elika.“Vamos falar se o cara é bom partido ou não é, fazendo uma breve entrevista, uma brincadeira. Seções de pessoas que estão nos seguindo, gente comentando”, conta. “Já tem muita gente famosa e solteira gostando da brincadeira, querendo participar, falando como é que a gente pode se livrar do risco de se encontrar com embustes. Palavrinha da moda pra quando a gente tá crente que tá se dando bem na vida e daqui a pouco tá entrando numa furada.”

Todo mundo junto

O PTinder pretende não só fazer encontro de casais com o intuito de sexo, que é importante, mas não é só isso, explica Elika. “Também o encontro de pessoas que querem só sair de casa e estar num bar, num restaurante, num show, numa palestra, numa livraria e encontrar pessoas com quem sabe que vai conseguir dialogar de forma amigável, que não vai correr o risco de encontrar com fascistas.”

A comunidade LGBT, trans, gente casada, viúva, separada, em relacionamento sério ou confuso, estável ou instável, no poliamor, tá todo mundo junto, avisa a professora.

Sobre as críticas negativas e os “haters” típicos do esconderijo proporcionado pela internet, Elika diz que são em número bem menor que os apoios recebidos. “É bem importante observar que teve muito fogo amigo, críticas feitas principalmente por homens, os famosos ‘esquerdomachos’. Ter duas mulheres bem resolvidas, com um currículo bom, à frente de um projeto como esse, parece que incomoda.”

Tanto Goretti como Elika são autoras reconhecidas nas suas áreas e também falando de feminismo, política. “A gente está nas ruas, em tudo quanto é manifestação. A gente está nas redes movimentando pessoas… Acho que quem fala isso são pessoas que não conseguem fazer duas coisas ao mesmo tempo”, ironiza. “A gente consegue fazer 10 coisas ao mesmo tempo e pelo visto muito bem. Acho que isso não vai atrapalhar em nada. Muito pelo contrário. Acho que tende a ajudar a militância em outras áreas que eu não considero menos sérias que a alegria, do que o amor, do que o sexo na nossa vida.”

De Rede Brasil Atual