Estudantes protestarão hoje na av. Paulista contra Bolsonaro
Em meio a pesquisas que mostram um aumento da reprovação do governo, o presidente Jair Bolsonaro decidiu usar a data de 7 de setembro, dia da independência do País, para conclamar que as pessoas saiam de verde e amarelo nas ruas, em uma demonstração de apoio ao seu governo e ao que chama de “patriotismo”. A convocação do presidente rapidamente ganhou adeptos e críticos da ideia nas redes sociais e, segundo analistas ouvidos pelo Estado, deve reforçar a polarização e o “embate de narrativas” durante o feriado.
Após o “pedido” de Bolsonaro, a União Nacional dos Estudantes (UNE) convocou um protesto no dia da Independência contrário ao governo e em defesa da Amazônia e da educação. A convocação pede que as pessoas usem roupas pretas, a exemplo do que ocorreu com o movimento dos caras-pintadas que, no 7 de setembro de 1992, saíram às ruas vestidos de preto, como resposta ao pedido do então presidente Fernando Collor de Mello para que as pessoas saíssem com as cores da bandeira nacional.
Segundo o presidente da UNE, Iago Montalvão, os “protestos de preto” devem ocorrer em cerca 100 cidades, de todos os Estados. As manifestações estão sendo organizadas pela UNE em conjunto com outras entidades estudantis como a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) e a Associação Nacional de Pós Graduandos (ANPG). Em São Paulo, a concentração será na Praça Oswaldo Cruz, na avenida Paulista, às 10h. No Rio, será na Rua Uruguaiana, às 9h. Já em Brasília os manifestantes de preto se encontrarão na rodoviária do Plano Piloto.
Bolsonaro fez o pedido para que as pessoas saiam de verde e amarelo no dia 7 para mostrar que a “Amazônia é nossa”, na última terça-feira, 3. “A gente apela para quem está nos ouvindo, para quem está em Brasília, para quem por ventura estiver no Rio de Janeiro ou em São Paulo, que compareça de verde e amarelo, que é para mostrar para o mundo que aqui é o Brasil, que a Amazônia é nossa”, afirmou o presidente durante a cerimônia de divulgação da Semana do Brasil, programa do governo federal que incentiva empresas a darem descontos em seus produtos e serviços durante a semana da Independência.
Redes sociais e a batalha de narrativas
Segundo analistas ouvidos pelo Estado, esse apelo de Bolsonaro deve gerar uma “batalha” de narrativas nas redes sociais no feriado do próximo sábado. No Twitter, já há uma disputa entre as hashtags #Dia7EuVouDePreto e #Dia7EuVouDeVerdeAmarelo. De acordo com uma análise feita pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), encomendada pela reportagem, o debate sobre a convocação gerou mais de 200 mil menções no microblog.
O levantamento leva em conta dados contabilizados até às 10h desta sexta-feira, 6, e mostra que a reação crítica ao governo foi maior que a favorável. A hashtag #Dia7EuVouDePreto atingiu mais de 46 mil menções, enquanto que #Dia7EuVouDeVerdeAmarelo alcançou 15,5 milhões de menções.
“Embora haja uma queda de popularidade, os 20% de apoiadores do presidente continuam muito ativos nas redes sociais, alguns deles nas ruas, então ainda há um movimento forte que pode fazer com que no sábado seja possível localizar as pessoas de verde e amarelo nas ruas”, afirma Kléber Carrilho, professor de pós-graduação de marketing e política da USP.
Para Carrilho, é provável que no dia haja uma “briga” nas redes sociais sobre os movimentos nas ruas, com gente postando fotos de pessoas de verde e amarelo e outros postando manifestantes vestindo preto. “Esse movimento tem acontecido sempre que o presidente toma uma posição como essa. A gente está vivendo uma guerra de comunicação como nunca houve, muito por conta das redes sociais. Então com certeza no sábado vai haver essa disputa”, diz o professor, que acredita que esse embate é mais simbólica do que real.
Símbolos nacionais
Sobre a tática de Bolsonaro de apelar a “símbolos nacionais” – como a bandeira e o hino nacional -, à soberania e ao patriotismo, o pesquisador em estudos de comunicação em rede e ética da ESPM, Luiz Peres-Neto, avalia que se trata de uma estratégia comunicacional do presidente para lançar a mensagem de que quem não está a favor dele, está contra o Brasil. “É um discurso simplista e muito pensado para o imediatismo e a superficialidade das redes sociais, ele cria a ideia de que os símbolos pátrios estão encarnados no governo”, diz.
Para Peres-Neto, as redes sociais são um terreno fértil para esse tipo de estratégia de comunicação. “De alguma maneira, é um discurso que podemos chamar de radical, no sentido de que não deixa margem para nenhum tipo de contestação. Em um contexto de redes sociais, qualquer um que se contrapõe com 140 caracteres, acaba caindo nessa coisa do ‘então você está contra’. Isso é perfeito para acentuar guerras de relatos.”
O professor ainda destaca que o fato de o governo atrelar essa disputa ao resgate da economia aprofunda ainda mais esse “embate”. “Em um contexto de crise econômica, se você está contra o Bolsonaro, você está contra o Brasil, a economia e a uma melhora da qualidade de vida. Ele força ainda mais essa questão, como se não houvesse espaço para a dissidência”, analisa.
De Estadão