Greenpeace chama fala de Bolsonaro na ONU de farsa

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Imagem: Stephanie Keith/Getty Images/AFP

O discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da 74ª Assembleia Geral das  Nações Unidas não agradou a ONGs que trabalham em prol da preservação da floresta amazônica. A fala do governante foi classificada como “farsa” e “vergonha” para o Brasil no exterior.

Para o coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace , Marcio Astrini, Bolsonaro promove o desmonte da área socioambiental da Amazônia e é parte do problema, e não da solução para a floresta.

“A fala do presidente sobre meio ambiente foi uma farsa. Bolsonaro tentou convencer o mundo que protege a Amazônia, quando, na verdade, promove o desmonte da área socioambiental, negocia terras indígenas com mineradoras estrangeiras e enfraquece o combate ao crime florestal. Sob sua gestão, as queimadas, o desmatamento e a violência aumentaram de forma escandalosa. Para a floresta e seus povos, Bolsonaro é um problema, não a solução”, diz o comunicado.

Em nota, a coordenação do Observatório do Clima , além de criticar o posicionamento do presidente no evento internacional, ainda apontou que a fala de Bolsonaro pode também prejudicar o agronegócio brasileiro.

“Como era esperado, o discurso de Jair Bolsonaro na ONU dobrou a aposta no divisionismo, no nacionalismo e no ecocídio. O presidente mais uma vez envergonhou o Brasil no exterior ao abdicar a tradicional liderança do país na área ambiental em nome de sua ideologia. Não fez nada para tranquilizar investidores, nem para aplacar o clamor crescente por boicote a produtos brasileiros. Põe em risco o próprio agronegócio que diz defender”.

O Observatório do Clima relacionou ainda o desmatamento da Amazônia e do Cerrado ao aquecimento global .

“Mas não apenas isso: as políticas de Bolsonaro trazem risco imediato para toda a humanidade. A ciência nos diz que temos até 2030 para cortar emissões de carbono em 45% se quisermos ter chance de estabilizar o aquecimento da Terra em 1,5ºC e evitar seus piores efeitos. O desmatamento descontrolado do cerrado e da Amazônia pode, sozinho, botar a perder a meta global”, segue o comunicado.

A relação do presidente com as ONGs ficou estremecida desde que ele afirmou que as organizações poderiam estar por trás das queimadas na Amazônia.

Fogo na Amazônia

“Nesta época do ano, o clima seco e os ventos favorecem queimadas espontâneas e criminosas. Vale ressaltar que existem também queimadas praticadas por índios e populações locais, como parte de sua respectiva cultura e forma de sobrevivência”, disse Bolsonaro sobre os focos de incêndio na floresta.

Segundo o pesquisador Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade Federal de São Paulo (IEA-USP), que está em Nova York, “o fogo na Amazônia não é espontâneo”.

— É raríssimo o fogo ter origem numa descarga elétrica, ao contrário do que ocorre no Cerrado. Na Amazônia, 100% desses incêndios são provocados pela espécie humana, que este ano cresceu bastante em relação ao ano passado — disse o pesquisador, que concluiu: — Os ventos são muito fracos na Amazônia, o que é bom, pois não torna o fogo incontrolável. O foco são as áreas derrubadas. Às vezes o fogo se propaga um pouco na beira da floresta, na mata ao lado da área derrubada. Eles querem o máximo de queima para que a área fique limpa para a pecuária.

‘Espírito colonialista’

Sem citar nominalmente a França, Bolsonaro mecionou um país que “se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista”. “Questionaram aquilo que nos é mais sagrado: a nossa soberania! Um deles por ocasião do encontro do G7 ousou sugerir aplicar sanções ao Brasil, sem sequer nos ouvir”, continuou o presidente, em referência às declarações de Emmanuel Macron durante encontro do G7 , quando sugeriu discutir a “internacionalização” da região.

— Não me parece que tem um colonialismo internacional. Esse modelo de substituição da floresta por agropecuária é o modelo que nós, e vários países amazônicos copiaram, é um autocolonialismo — continua Nobre.

Para ele, trata-se do mesmo modelo que desde quando os portugueses por aqui aportara, sem enxergar valor na floresta.

— Esse modelo do colonialismo português é um modelo que nós, na década de 70, impusemos à Amazônia e do qual não nos livramos. Ele não levou ao desenvolvimento da população em sua grande maioria. Essa população não melhorou da vida. A substituição da floresta pela agropecuária não trouxe benefício para grande parte dos que migraram e seguiram esse modelo. Então não é verdade dizer que uma área protegida vai melhorar a vida das pessoas na hora que deixar de ser floresta — concluiu.