Setor privado considera desnecessário tom agressivo de Bolsonaro
Jair Bolsonaro desceu triunfante da tribuna da ONU (Organização das Nações Unidas) em Nova York nesta terça-feira (24). Seus filhos exultaram nas redes sociais. Na linguagem da Internet, ficou claro que eles acham que o pai “lacrou”.
“Há quanto tempo esperávamos por um presidente que fizesse um discurso desses”, tuitou Eduardo Bolsonaro, candidato ao posto de embaixador do Brasil em Washington.
Aqui em São Paulo, nas sedes das empresas, nos escritórios dos bancos, nas associações de classe, a reação foi bem diferente. O discurso agressivo – com ataques a outros países, à mídia, às ONGs – foi visto como desnecessário.
Com o compromisso de preservar o anonimato, a coluna ouviu representantes de importantes setores da economia logo após o fim do discurso. Talvez as opiniões mudem um pouco a medida que os impactos maturarem, mas os comentários foram bastante parecidos.
Para um banqueiro, o discurso de Bolsonaro não chegou a comprometer, mas não havia motivo para colocar tanta ênfase em Cuba, Venezuela ou voltar a brigar com a França. Valeria mais a pena gastar o tempo promovendo o país, que precisa desesperadamente de investimentos.
O dono de uma grande indústria ficou preocupado com os ataques à mídia e às ONGs. Ele acredita que isso torna o clima mais belicoso e atrapalha os negócios, porque gera incertezas. Se a economia estivesse crescendo forte, ninguém se preocuparia com os arroubos do presidente. Mas não é o caso. O PIB esteve ano não deve passar de 1%.
A coluna questionou um representante do setor agrícola se ele temia que os europeus reagissem com barreiras contra os produtos brasileiros ao comentário de Bolsonaro de que há “falácias” sobre a Amazônia. Nesta semana, um grupo de fundos de investimento que administram trilhões de dólares soltou um comunicado preocupado com o tema.
A fonte respondeu que a União Europeia é pragmática e deve seguir comprando os produtos agrícolas do Brasil no curto prazo. Ressaltou, todavia, que os europeus vão continuar tocando sua agenda interna, que pode nos prejudicar no médio e longo prazos. Exemplo: retardando o acordo Mercosul – UE e acelerando uma legislação ambiental mais rígida, que puna parceiros comerciais que desmatem.
De todas as conversas, a pergunta que ficou é a seguinte: qual foi o ganho concreto para o Brasil com o discurso de Bolsonaro na ONU?
Da FSP