Tensão entre Greta Thunberg e Trump se evidencia na ONU
Repreendidos por ação insuficiente, líderes mundiais se comprometeram nas Nações Unidas, nesta segunda-feira (23/09), a fazer mais para impedir que o aquecimento do planeta alcance níveis ainda mais perigosos. Por sua vez, o presidente dos EUA, Donald Trump, reagiu com sarcasmo ao discurso emocionado da ativista adolescente Greta Thunberg.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, encerrou a cúpula em Nova York listando 77 países que se comprometeram com a neutralidade do carbono até 2050, 70 nações que se comprometeram a fazer mais para combater as mudanças climáticas, e 100 líderes empresariais que prometeram se unir à economia verde, além de um terço do setor bancário global que assinou metas ecológicas.
“Ação por ação, a maré está mudando”, disse o português. “Mas temos um longo caminho a percorrer.”
Empresas e instituições de caridade também prometeram colaborar, indo às vezes até mais longe do que as principais nações do planeta. O fundador da Microsoft, Bill Gates, anunciou nesta segunda-feira que sua fundação, juntamente com o Banco Mundial e alguns governos europeus, fornecerá US$ 790 milhões (quase R$ 3,3 bilhões) para ajudar 300 milhões de pequenos agricultores do mundo a se adaptarem às mudanças climáticas. A fundação Gates prometeu contribuir com US$ 310 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão).
O enviado especial da ONU para a Cúpula para a Ação Climática, o diplomata mexicano Luis Alfonso de Alba, se disse satisfeito com o resultado da reunião na qual 77 países apresentaram seus planos para zerar as emissões de carbono até 2050. “De maneira global, o resultado é bastante positivo. Claramente há uma concordância sobre a urgência em agir. Isso ficou evidente. Se não tivéssemos convocado esta cúpula, estaríamos muito mais atrás”, destacou De Alba.
A conferência do clima, precedendo a Assembleia Geral da ONU que começa nesta terça-feira, foi convocada pelo secretário-geral António Guterres. Discursaram no evento, entre outros, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente da França, Emmanuel Macron. O governo federal do Brasil não tomou parte da conferência.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, provocou indignação nas mídias sociais ao publicar no Twitter um texto zombando de um discurso apaixonado feito pela ativista Greta Thunberg, de 16 anos, na cúpula em Nova York.
Com voz trêmula, a adolescente acusou os líderes mundiais de terem traído sua geração pela falta de ação no combate ao aquecimento global, repetindo a expressão “como se atrevem” quatro vezes. “Vocês vêm até nós em busca de esperança. Como se atrevem?”, criticou. “Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias, e ainda assim eu sou uma das que têm sorte”, disse. “Pessoas estão sofrendo. Pessoas estão morrendo.”
Trump, um cético das mudanças climáticas, comentou com aparente sarcasmo, algumas horas depois: “Ela parece uma jovem muito feliz, ansiosa por um futuro brilhante e maravilhoso. Tão bom ver!”. O texto foi acompanhado por um vídeo do discurso.
O comentário em relação à ativista – que sofre da síndrome de Asperger, uma forma leve de autismo – gerou mais de 16 mil respostas em três horas, muitas delas atacando o presidente dos EUA. “Donald Trump atacando uma jovem inocente é absolutamente nojento”, escreveu um usuário do Twitter.
Thunberg e Trump estiveram brevemente numa mesma pequena sala quando chegaram à cúpula, com um vídeo mostrando a adolescente olhando com expressão de raiva para o presidente enquanto ele passava com sua comitiva.
Antes do apelo de Thunberg, quem falou foi a brasileira Paloma Costa, 27 anos, estudante de direito da Universidade de Brasília. “A resposta que temos visto [para as queimadas na Amazônia] não é suficiente”, disse a ambientalista, que coordena o grupo de trabalhos sobre o clima da ONG Engajamundo e também fundou a Ciclimáticos, coletivo de ciclistas que documenta o impacto das mudanças do clima em comunidades brasileiras.
Paloma acusou o governo brasileiro de não ouvir as populações indígenas e os jovens: “Mas vocês não estão nos seguindo. Não precisamos de oração, precisamos de ação”, sublinhou a brasileira, sendo aplaudida pela plateia, que incluía líderes governamentais, empresários e membros da sociedade civil.
Do DW