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A representação de nossa mediocridade chegou às praias

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Richard Nixon certa vez defendeu a mediocridade do seu governo dizendo que os medíocres também precisavam ser representados. Certa a intenção de Nixon. Os medíocres formam a maior parte da população de qualquer país e condená-los à irrelevância política ou a um governo de notáveis, de autocratas autoungidos ou de generais disfarçados seria uma maldade antidemocrática. O próprio Nixon foi um exemplo de mediocridade bem-sucedida, pelo menos de acordo com o seu conceito de mediocridade e sucesso. No fim, teve que deixar o governo por excesso de mediocridade, mas durante sua carreira foi uma inspiração para a categoria. Poucos medíocres chegaram tão longe.

O Brasil talvez tenha a maior quantidade de políticos medíocres por metro quadrado do mundo. Estão concentrados nas duas casas do Congresso Nacional, mas seu poder se espalha pelos legislativos e executivos estaduais e pelo Judiciário e chega ao Planalto como uma espécie de apoteose da teoria do Nixon. Congressistas brasileiros cuidam das suas vidas e dos seus bolsos e têm pronta a resposta para quem os acusa de medíocres: no Brasil, quem não é? Claro que há exceções, bons políticos cuja excepcionalidade só realçam a mediocridade da maioria. A escuridão em volta destaca o brilho. Mas a escuridão não para de aumentar.

No Brasil, a Natureza colabora com o artista. Fornece paisagens espetaculares, poemas prontos, beleza por todos os lados. E, quando é preciso, também fornece metáforas e ironias conforme a ocasião. Ninguém descobriu até agora de onde vem o petróleo que está sujando as nossas praias. Existe representação maior e mais apropriada para a nossa situação do que uma sujeira cuja origem ninguém sabe? De onde vem esse negrume nas nossas almas, de que abismo, de que culpa nunca saldada?

Estamos pagando pela nossa mediocridade, será isso? Nos atacam no que temos de mais bonito, as praias. A escuridão já chegou a Itapuã.