Bivar é excluído de evento conservador

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Foto: Jorge William

“Após décadas de escuridão, um novo facho de luz atinge terras brasileiras”. Assim é apresentada ao público a Conferência de Ação Política Conservadora, o CPAC Brasil. Organizado nos Estados Unidos desde 1973 e agora trazido ao Brasil por Eduardo Bolsonaro, a versão brasileira do maior evento conservador do mundo vai ser realizada nesta sexta-feira e sábado em São Paulo. A promessa é clara: pensar e debater o conservadorismo em um país onde “as principais esferas socioculturais se mostram dominadas pela esquerda”.

A organização do evento está sob a responsabilidade da American Conservative Union (ACU), a fundadora do CPAC americano, em parceria com a Fundação Índigo, ligada ao PSL, partido de Bolsonaro. Os americanos estão colaborando com o conhecimento e a experiência da realização do evento.

O presidente Jair Bolsonaro é esperado para discursar na abertura da conferência às 20h30 desta sexta. Outros integrantes do governo como os ministros Abraham Weintraub (Educação) e Damares Alves (Direitos Humanos), além do deputado Eduardo Bolsonaro, estão escalados para palestras ao longo da programação.

A dois dias da estreia, porém, o CPAC Brasil teve uma baixa. O presidente do PSL, Luciano Bivar, estava confirmado até a última quarta-feira, mas foi apagado da programação. Foi nesta semana que os atritos entre ele e Jair Bolsonaro chegaram ao seu auge, levando a um quase rompimento entre os dois. Os organizadores do CPAC justificaram “questões de agenda” para o cancelamento.

A escolha dos astros do evento reflete as próprias relações exteriores do governo de Jair Bolsonaro. “Seguimos um padrão norte-americano, com algumas peculiaridades brasileiras. No geral, a forma é a mesma”, afirmaram os organizadores da Fundação Índigo.

O destaque é para o país de Donald Trump. Todos os conferencistas estrangeiros são americanos, vindos ao Brasil para “celebrar a nova aliança política e social dos dois países neste novo tempo”, como os próprios organizadores descrevem. Entre eles estão participantes conhecidos do CPAC americano, alguns com passagens pelo governo Trump.

“A presença (dos conferencistas americanos) decorre da participação da ACU na organização. Diversos palestrantes norte-americanos abriram mão de cachê e vieram gratuitamente, com o objetivo de ajudar a divulgar o pensamento conservador no Brasil”, informou a organização do evento, em nota.

As palestras vão seguir a cartilha bolsonarista de confronto a uma suposta hegemonia de esquerda nos meios culturais, sociais e políticos do Brasil. Araújo, por exemplo, vai discursar sobre o “fim da política de viés socialista” no país. O youtuber Bernardo Küster, sobre a religião como a “última barreira contra a dominação comunista”. E “Como conservadores podem se defender da manipulação da mídia pró-esquerda” será o tema da palestra do americano Charles R. Gerow.

Rafael Nogueira, professor mais conhecido dos documentários do estúdio Brasil Paralelo, afirmou que sua palestra vai fazer um apanhado da história do conservadorismo no Brasil, da “luta anticomunista de 1964 até a eleição de Jair Bolsonaro”.

“A gente já está falando há muito tempo o que é conservadorismo. Está na hora de começar a entender algumas coisas”, disse ele. “Primeiro, entender o que não é conservadorismo. Não é machismo, fascismo, racismo, nazismo. Conservadorismo é uma maneira de encarar a vida, e, portanto, a política, de forma a querer resgatar a experiência e a sabedoria do passado. Assim, cultivar melhor os valores, as virtudes, as instituições e os governos para um futuro melhor”.

A CONFERÊNCIA AMERICANA
Nos Estados Unidos, o CPAC é um evento bastante aguardado, principalmente pela direita mais radical. Os nomes do Partido Republicano mais frequentes no encontro são justamente os mais extremados, aqueles que ganharam força com o governo de Donald Trump — que participou de várias edições. Muitos líderes de direita da Europa também participam do evento.

Realizado em grandes hotéis na Grande Washington, o CPAC une palestras e debates a uma feira de negócios conservadores. ONGs e empresas de direita fazem exposição de produtos como jogos contra o esquerdismo, camisetas “a favor do CO2”, bottons contra o feminismo e de movimentos a favor da liberdade e das armas. Esses estandes ajudam a pagar a organização do evento, que vende ingressos e anúncios, além de receber doações.

Para a edição de 2020 do evento americano, que ocorrerá de 26 a 29 de fevereiro, a organização do evento está vendendo um ingresso VIP a US$ 5.750 (R$ 23,8 mil) que dá direito a acesso privilegiado, participação em coquetéis e jantares, além de acesso prioritário aos locais das palestras.

Nos anos anteriores, a questão das armas foi um dos pontos centrais no CPAC. Com o aumento de chacinas, a opinião pública americana passou a majoritariamente apoiar algumas restrições, o que fez a poderosa Associação Nacional de Rifles (NRA na sigla americana) a ocupar cada vez mais o evento, afirmando que não defende as armas, mas a liberdade do povo americano.

Da Época