Caixa Cultural censura mais uma peça de teatro
Os últimos dois meses, o diretor José Henrique de Paula viu a notícia de que a Caixa Cultural havia cancelado espetáculos teatrais com temas que desagradam os simpatizantes do presidente Bolsonaro –pautas LGBT ou críticas ao regime militar, por exemplo. A par da suspensão das peças “Gritos” e “Abrazo”, intuiu que “Lembro Todo Dia de Você”, dirigido por ele, seria o próximo caso. Tinha razão.
Na semana passada, o diretor foi informado por funcionários da Caixa Cultural de que a peça, que teria sessões em uma unidade do Rio de Janeiro entre os dias 10 e 20 deste mês, também não poderia mais fazer parte da programação do local pelo banco.
As suspensões motivaram suspeitas de censura entre artistas e também no Ministério Público Federal.
O espetáculo “Lembro Todo Dia de Você” tem como protagonista um personagem que é homossexual, soropositivo e que vai trazendo lembranças para o palco, incluindo cenas com beijos entre homens.
Explicaram ao diretor que o espaço destinado a receber a peça, o Teatro Nelson Rodrigues, passaria por uma reforma, e que esse era o motivo da suspensão. Ele estranhou não só o cancelamento, mas a recusa dos programadores da Caixa em levar o espetáculo para outro estado, já que há unidades em São Paulo, Brasília, Recife, Porto Alegre, ou mesmo de reagendá-la para o ano que vem.
Questionada sobre o cancelamento, a assessoria de imprensa da Caixa Cultural informou que “em virtude de atendimento a adequações estruturais nas instalações do teatro Nelson Rodrigues, estão sendo realizadas obras com vistas à emissão do certificado de funcionamento”, um documento destinado ao Corpo de Bombeiros. “Com isto, estamos momentaneamente impossibilitados de realização de espetáculos, pelo porte e por questões de agenda.”
Além dessas três peças, a Caixa Cultural cancelou outros dois eventos programados para este semestre. No Rio de Janeiro, foram suspensas uma série de palestras para estudantes entre dez a 15 anos, a Aventuras do Pensamento, e também uma mostra sobre a cineasta Dorothy Arzner. O primeiro evento debateria a democracia, o segundo falaria de sexualidade.
Ainda nesta semana, o Centro Cultural Banco do Brasil também cancelou uma peça que estava prevista em sua programação. “Caranguejo Overdrive” faria uma pequena temporada, também na capital fluminense, em outubro. Os produtores do espetáculo, que tem cenas em que são abordados temas como as milícias e incêndios na Amazônia, foram informados de que a peça havia sido suspensa.
De FSP