Cidade de SE ganha prêmio de sustentabilidade
“Hoje nós podemos dizer que estamos ricos”. O depoimento de um morador da comunidade Brasilinha, periferia de São Cristóvão (SE), resume a emoção dos quase 90 mil habitantes da pequena cidade nordestina que hoje comemora a facilidade de ter, pela primeira vez, água tratada em quase 100% das casas.
O projeto “Águas de São Cristóvão”, iniciado em 2017, ganhou destaque nacional ao conquistar o primeiro lugar na 3ª edição do Prêmio Cidades Sustentáveis, no tema Acesso a Serviços, categoria municípios pequenos. A cerimônia de premiação ocorreu durante a Conferência Catalisando Futuros Urbanos Sustentáveis, realizada há duas semanas no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Depois de um longo processo de análise, que contou com a participação de especialistas e organizações parceiras do Programa Cidades Sustentáveis, a vitória desta boa prática sergipana é extremamente significativa e simbólica ao representar o poder dos pequenos municípios brasileiros na promoção da qualidade de vida aos seus cidadãos.
O projeto “Águas de São Cristóvão” inovou ao priorizar uma administração integrada dos recursos hídricos sempre com o foco em três pilares: gestão participativa, acesso à água como direito e qualidade dos serviços e produtos.
O poder público municipal, responsável pela iniciativa —e premiado por isso— também teve o cuidado de alinhar as ações aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, principalmente em relação ao terceiro objetivo, que visa “assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades” e ao sexto objetivo, que busca “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos”.
Chama a atenção a preocupação dos gestores em qualificar a relação com os moradores da cidade. Os padrões de qualidade dos serviços de captação, tratamento e abastecimento de água são divulgados por meio de mensagens nas contas de água, notas no jornal local e no site da prefeitura.
Também são prestadas informações por meio da central de atendimento via telefone com quatro linhas disponíveis. Segundo a prefeitura de São Cristóvão, todas as solicitações e reclamações dos usuários são analisadas e consideradas nos processos de gestão.
Além da satisfação visível no rosto dos moradores de São Cristóvão, há números impressionantes desta boa prática em menos de dois anos de execução. Alguns deles: aumento em 30% do volume de água represada com o alargamento do minante do Banho Morno e Rio das Moças; perfuração de 7 novos poços tubulares, aumentando a capacidade em cerca de 18 mil litros/hora; conclusão em 100% da Estação de Tratamento de Água do Rio Comprido; implantação de mais de cinco mil metros de rede de abastecimento de água; interiorização das ações para cerca de doze povoados, além do Centro Histórico.
Dar voz e visibilidade a histórias tão bem-sucedidas quanto essa foi nossa intenção ao incluir a cerimônia de entrega do Prêmio Cidades Sustentáveis na programação de uma conferência internacional que reuniu mais de 1.200 especialistas de 201 cidades e 40 países.
Muito mais do que entregar um troféu à gestão em vigor, o Prêmio tem o papel pedagógico de estimular boas práticas em todo o Brasil, valorizando o papel das cidades e, assim como em São Cristóvão, revelando o poder transformador dos pequenos municípios, independentemente dos recursos financeiros e das condições políticas mais ou menos favoráveis.
A genuína felicidade do humilde morador declarando-se rico diante da água —em contraste com a valorização da riqueza material dos dias de hoje— fez muitos pensarem em questões básicas que saem de nosso radar nos grandes centros urbanos e mostrar que temos muito a avançar em temas simples, mas fundamentais para a qualidade de vida de importante parcela da população.
Iniciativas consistentes como a de São Cristóvão têm caráter multiplicador e devem servir de inspiração para as mais diversas cidades brasileiras.
Da FSP